Caio Caramico Soares
da Redação

"Embora seu alvo principal seja o eu, esta não é uma obra de psicologia", diz o inglês Anthony Giddens, 64, sobre "Modernidade e Identidade", em que investiga "os novos mecanismos de auto-identificação" surgidos no fim do século 20.
Um dos principais sociólogos da atualidade, reitor da London School of Economics and Political Science, Giddens explora nesse livro de 1991 seu conceito de estruturação dos indivíduos, atento ao jogo entre as influências sociais e a "intencionalidade".
Aqui a sociologia de Giddens combina método e senso histórico: o pessoal e o coletivo são esferas conexas, mas distintas, sobretudo na era moderna, que, por ser "reflexiva", dá a cada um a chance e o peso de escolher entre estilos de vida diversos e contraditórios.
Antes de atrair os holofotes como guru do premiê Tony Blair -no poder desde 1997- e arauto da "Terceira Via" entre a direita e a esquerda, Giddens já pensava a "modernidade tardia" como um choque de extremos que pede alternativas.
No dia-a-dia do indivíduo, a contradição está na raiz desse eu reflexivo. Despojada de vínculos compulsórios -religiosos, profissionais, afetivos-, a vida pessoal ganha em liberdade, mas perde em sentido e em continuidade. Como Sísifo rolando a pedra, somos fadados a sempre reinventar o passado e tentar -em vão- "colonizar" o futuro. Tal tensão, típica também dos "riscos-países" do mundo global, levaria a um vazio moral pouco satisfeito pelo clichê da autenticidade, do "seja você mesmo".
A solução? Giddens diz que ela passa pela "política-vida" de movimentos como o feminista e o ecológico, que estariam trazendo visibilidade pública para a busca de identidade pessoal e preenchimento ético para o existir.