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Como é mesmo que se escreve?
Qualquer um escreveria "Foi uma vitória acachapante". Mas, conforme o "Aurélio" e o "Michaelis", a grafia preferencial seria "acaçapante".
Os dois compêndios
consignam a palavra "arimética" como variante de
"aritmética". Permanece
um mistério saber quem,
alguma vez na vida, grafou "aritmética" sem o "t"
(o "Aurélio" consigna
também "arimético"). Fenômeno idêntico ocorre
com "pósiton", dado pelo
"Aurélio" como se fosse
variante de "pósitron". Já
o "Michaelis" prefere
"posítron", com acento
no "i". Neste caso, a preferência vem de um motivo
filológico perfeitamente
razoável (não se escreve
"életron") -embora ninguém fale ou escreva assim, o que diz bastante sobre o alcance dos motivos
filológicos perfeitamente
razoáveis.
O eventual leitor deve
cuidar da próxima vez
que for ao médico e este
indicar a realização de
uma biópsia. Deveria dizer "biopsia", sem acento.
O "Aurélio" diz que
"eletro" é variante de
"electro" (de modo que
nosso médico também
não deve encomendar um
eletro, mas um electro),
ao passo que, de modo
mais sensato, o "Michaelis" inverte a preferência.
Não é só o "Aurélio"
que faz confusões com variantes. No "Michaelis", o
leitor que procura por
"sobressalente" é informado de que se trata de
variante de "sobresselente", com "e". Esta, por sua
vez, é dada como corruptela de "sobressaliente",
de volta ao "a".
Não vá o eventual leitor
comprar uma samambaia
e pedir por esse nome: a
denominação preferencial, conforme o "Aurélio", seria "gleichênia".
Por falar em espécies vegetais (e animais), o "Aurélio" tem uma cobertura
errática. Além disso, por
vezes não fornece a classificação sistemática (o
"nome científico"), a qual
corresponde ao único referencial confiável para a
identificação de um ser vivo. O "Michaelis" é mais
consistente.
Os adjetivos "anafilático" e "apoplético". As formas preferenciais seriam
"anafiláctico" e "apopléctico", com um "c" aí no
meio, como se estivéssemos em Portugal.
Cuidado, também, ao
exclamar em casa: "Cadê
minha revista?". Os deuses da lexicografia recomendam dizer "Quede
minha revista?".
Pessoas dadas a frequentar bordéis não devem se referir à administradora do estabelecimento como "cafetina". A
correção lexical dá preferência a "caftina", sem o
"e", como prefere "cáften" a "cafetão". Tanto o
"Aurélio" quanto o "Michaelis" chegam ao ponto
de declarar que "cafetina"
e "cafetão" seriam gíria.
Há também grafias desviantes ("desviante" nem
sequer aparece no "Aurélio" e, no "Michaelis", é
reservado à conduta social), consignadas porque
compareceram, provavelmente por erro, na obra
de algum autor lusitano
ou brasileiro ("abóbeda",
"autócrata", "expetador").
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