São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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+ Poema

Roupoema

Seus dentes poderiam fazer merchandising
de maconha
embora façam de Colgate
dos lóbulos caem pingentes

to sell ou vender
seus pés não pisam em piso falso
e andam descalços
num clip ou num filme

seus pés anunciam
uma sandália de plástico imputrescível
Vênus pu(t)ibunda
bebe de tudo, nos bastidores,

agora se parece às vezes
com um travesti
também
agora Hollywood está a seus pés

posa, cheia de si
se exibe com peitos de silicone
veste casacos, no inverno, de pele de lontra
ou de alguma outra espécie

sua cabeça está cheia de cocaína escondida
declara ter hobbies e entre eles
o predileto: fazer blow job
é mais asséptico, sob controle,

e poupa o clitóris
preservando o cheiro dos cosméticos
no corpo e nas roupas
nos lábios, botox

o nariz anuncia um perfume alegórico
de seus cabelos longos e ondulados,
caem letras cegas, se refletem flashes
de vez em quando, usa uma gargantilha

limpa sua própria língua
principalmente o dorso posterior
com um produto novo
para segurar o hálito

não vende roupa
vende os lábios
os lábios vendem a boca,
cornucópia de si mesma

ouve tecno e hip hop
digita no papelote
Não sabe escrever nada
Além do próprio nome


Régis Bonvicino é poeta, autor de, entre outros, "Ossos de Borboleta" (ed.34).
É co-editor da revista "Sibila".


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