São Paulo, domingo, 23 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

+ 3 questões Sobre a utopia brasileira

1. O que lhe vem à cabeça quando pensa no futuro do Brasil?
2. Que coisas tornariam a vida dos brasileiros melhor?
3. Qual o seu maior sonho e o maior medo quanto aos rumos do país?


Luciana Lopez, 28 publicitária

1.
Acho que nada está perdido. O Brasil tem tamanho, potencial bastante para dar a todos o que cada um precisa para viver decentemente.
Já que a gente não pode esperar muito das pessoas que estão governando o país, aqueles que realmente deveriam estar fazendo alguma coisa pelo país, eu penso que nós precisamos partir para a ajuda de ONGs (Organizações Não-Governamentais) -ou até mesmo para a ajuda que cada um possa dar.

2.
Acho que -acho não, tenho certeza-, antes de tudo, o que melhoraria a vida dos brasileiros seria a educação.
Também acho importante o respeito pelo outro. É incrível o descaso que há pela vida humana, e é claro que, se o brasileiro não se importa com a própria vida, que dirá com a vida dos animais das florestas, da conservação das praias e dos seres que ali vivem etc.
Quem não come não vive, não aprende, não trabalha. Comida é essencial.

3.
O meu maior sonho, é claro, é ver as pessoas se alimentando, crianças estudando, tendo mais respeito pelo outro.
O que me dá mais medo é o número crescente de "espertos" que há neste país. Aqui é sem dúvida o país dos espertos, parece que brota. Cada um querendo ser e ter mais do que o outro, não importa como. Não apenas pessoas importantes, mas também pessoas comuns, que a gente encontra no nosso dia-a-dia, querendo tirar proveito de qualquer coisa.

Fernando Pereira, 41 zelador

1.
Espero que o país melhore. Eu queria morar num lugar sem tanta violência, sem corrupção, sem desemprego. Porque o desemprego depende também dos governantes que estão aí, não depende só da gente. O país é muito rico, mas precisa ter gente que governe direitinho. Isso pode demorar, mas, se mudar de governador, de presidente, pode ser rápido também. Até hoje, entra um, sai outro, e as coisas continuam muito feias.
Hoje há uma exploração muito grande da gente. O salário quase não dá para a cesta básica, não dá para continuar assim. Esse aumento agora foi uma safadeza, não dá para nada. Até hoje nada foi feito pelo Brasil. Tem que entrar uma pessoa que pense no povo. Nosso país está destruído, mas espero que melhore.

2.
Mais empregos, mais segurança, menos corrupção, melhores governantes. A classe baixa está abandonada, tem muita gente no meio da rua. E a tendência é piorar, se não houver uma mudança. Do jeito que as coisas vão, não vai ter emprego para ninguém. As empresas estão falindo, o comércio, fechando as portas. Tem que dar mais emprego e mais segurança para todos nós. Emprego e saúde, que são as coisas mais importantes da vida. Essa corrupção toda, assaltos, gente roubando nas ruas, é por falta de emprego. Se as pessoas tivessem seu dinheirinho, não fariam isso.

3.
Meu maior medo é uma guerra, que entre um outro país e tome conta da gente, com tanque e tiroteio. O outro é perder o emprego, que as pessoas tenham menos emprego ainda. Outra coisa que assusta é não ter segurança, não poder andar na cidade. A gente aqui tem o que comer, mas os nordestinos estão passando fome.
Desde os 7 anos ouço dizer que o mundo vai acabar, mas até agora não acabou. Tenho medo de uma guerra geral, mundial. Mas isso só vai acontecer se o povo quiser. Estamos vivendo um tempo muito violento, isto já é uma guerra, mas eu espero que ela não tome conta de tudo.
O meu sonho é ver o país numa boa, sem corrupção e sem violência. Isso não pode continuar assim. Quero um país melhor do que este que a gente tem. Uma vida tranquila, mais confortável, com a família. Isso para todo mundo, para que a gente tenha paz.

QUEM SÃO

A Folha entrevistou dois moradores da cidade de São Paulo e lhes fez três perguntas extraídas da pesquisa que resultou no "Relatório Folha da Utopia Brasileira", publicado nas páginas seguintes. Fernando Pereira, baiano de Feira de Santana, estudou até o quarto ano primário. Ele vive e trabalha há mais de 15 anos como zelador de um prédio residencial no bairro Cerqueira César, em São Paulo. Luciana Lopez, nascida no Rio de Janeiro, mudou-se há dois anos para São Paulo, onde é diretora de arte em uma agência de propaganda no bairro de Moema. (Maurício Santana Dias)


Texto Anterior: Os dez +
Próximo Texto: O país do futuro imediato
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.