São Paulo, domingo, 23 de abril de 2000


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Levantamento realizado pelo Datafolha investiga o que os brasileiros idealizam para o Brasil
O país do futuro imediato

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Operário da prefeitura de Macaé (RJ) observa obra de construção de usina de tratamento de esgotos


O Brasil é o país da utopia... imediata. Pesquisa nacional realizada pelo Datafolha aponta que os brasileiros estão otimistas quanto ao futuro do país, e a maior parte deles calcula que o Brasil se tornará uma superpotência econômica em cinco anos. O "Relatório Folha da Utopia Brasileira" entrevistou pessoas acima de 16 anos, de várias partes do país e de todas as classes sociais, a respeito do que sonhavam para o futuro do Brasil. A pesquisa é um complemento, na perspectiva da vida pública e futura, do "Relatório Folha da Felicidade Brasileira", publicado pelo Mais! em 25/5/1997, sobre a satisfação privada e hodierna. Na época, o levantamento indicou que a maioria dos entrevistados estava feliz com a vida que levava. Na nova pesquisa, o futuro é previsto pela maior parte dos brasileiros para até 10 anos, no que diz respeito a sua vida pessoal, ou para até 20 anos, no que concerne à do país. "Como sujeitos bem contemporâneos", escreve o psicanalista Contardo Calligaris, colunista da Folha, "os brasileiros querem que as coisas melhorem no tempo de sua própria vida mortal".

Violência e corrupção
Os sonhos dos brasileiros para o futuro do país são: fim do desemprego, políticos honestos e término da violência cotidiana. Essas três "utopias" dão a tônica das outras principais respostas. As primeiras coisas que vêm à cabeça de boa parte dos entrevistados quando pensa em futuro são emprego, melhor situação financeira e estudos. Quando pensam no futuro do país, o maior número de brasileiros o associa a melhor governo, mais empregos e fim da corrupção e da violência. Corrupção política, incompetência do governo, desemprego e governantes indicam para a maioria as razões que impediriam o país de se tornar uma superpotência. Guerra e violência são as coisas que os brasileiros mais temem para o seu futuro. Segundo o psicanalista Jurandir Freire Costa, as expectativas dos brasileiros apuradas pela pesquisa nada têm a ver com utopia. "Nessa sociedade, vive-se para sobreviver e, como o trabalho garante a subsistência, em sua falta é o próprio sentido da vida que se perde", ele comenta.

Auto-estima
"A utopia dos brasileiros se assenta no alicerce da auto-estima, que nada consegue abalar, nem mesmo a derrocada da moeda", escreve a ensaísta Walnice Nogueira Galvão (leia na pág. 23).
Para 64%, o Brasil é um lugar ótimo ou bom para viver no presente, e a maioria (59%) acredita que ele será melhor ainda nos próximos anos.
Este é também um país que tem muita importância no mundo de hoje para os entrevistados (79%) e terá mais importância no futuro (na opinião de 73%). O orgulho de ser brasileiro é comum a 87%.
Otimistas quanto ao futuro, os brasileiros entretanto têm uma visão conflituosa e cética sobre a história do país: 49% acham que o Brasil tem tido mais fracassos do que sucessos, enquanto 44% pensam o contrário.
Para que, de agora em diante, o país seja mais bem-sucedido, a maioria recomenda que haja políticos sérios, mais emprego e investimentos em educação.
A originalidade do Brasil em relação ao resto do mundo é defendida por 47% dos entrevistados. Para eles, o país é "muito diferente" de outras nações, entre elas os EUA -apesar disso considerados um modelo para o futuro brasileiro (por 35%).
É também majoritária (para 76%) a idéia de que os demais países devam seguir o modelo de mistura de culturas do Brasil, país cujas contribuições para o mundo no futuro serão sobretudo nos esportes, na música, na televisão, na agricultura, no jeito de se relacionar e, mais uma vez, na mistura de raças.


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