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COM TODAS AS LETRAS
Um discreto barroquismo baiano
ROGÉRIO ORTEGA
Coordenador de Artigos e Eventos
Não é exatamente novidade aludir a um certo "barroquismo
baiano" ao falar de João Ubaldo
Ribeiro. O próprio escritor põe lenha nessa fogueira ao dizer que
"nenhum baiano está imune ao
barroco", na última edição dos
"Cadernos de Literatura Brasileira", do Instituto Moreira Salles.
Ao mesmo tempo, Ubaldo adverte para a simplicidade que há
em coisas indubitavelmente barrocas, como Bach. Se esticarmos
generosamente o termo, à semelhança do filósofo catalão Eugenio
D'Ors (1881-1954), podemos enxergar os mesmos traços na sua literatura, tão rica quanto depurada, e (guardadas as evidentes proporções) na conversa de Ubaldo,
caudalosa, cativante e sem traços
de pedantismo, a despeito da considerável erudição do itaparicano.
Ubaldo compartilhou esse
"barroquismo discreto" com o
público no evento que retomou,
em 12 de abril, o ciclo "Com Todas as Letras", parceria da Folha
com a Academia Brasileira de Letras, na qual o escritor baiano
ocupa -segundo ele mesmo, não
sem uma implacável campanha de
seus amigos- a cadeira de número 34.
Na conversa, Ubaldo passeou
por seu mais recente livro, "A Casa dos Budas Ditosos", dedicado
à luxúria dentro da coleção "Plenos Pecados", da editora Objetiva; pelas peripécias da sua eleição
para a Academia; por histórias que
envolviam pessoas e personagens,
estes tão vivos quanto aquelas; por
sua maneira de escrever um livro,
sempre começando pelo título.
Que mais dizer? Como reproduzir fielmente as inflexões, os gestos, os casos bem-humorados que
Ubaldo, seguidor de uma tradição
de grandes contadores de histórias, desfiou no auditório da Folha
por pouco mais de duas horas?
Pode-se apenas afirmar que, pelo
público, a noite teria sido bem
mais longa. Ou que, de Gregório
de Matos a Ubaldo, o "barroco
baiano" continua vivo e saudável.
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