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CONEXÃO AMERICANA
Ex-policial teve aulas da CIA em São Paulo
O curso especial
especial para a Folha
e do "Notícias Populares"
Erwing de Barros, 41, advogado e
ex-policial civil de São Paulo, contou à Folha que agentes norte-americanos se aproximaram das
polícias civil e militar de São Paulo
e da Guarda Civil Metropolitana às
vésperas do Movimento de 1964.
"Tivemos um curso especial na
cidade ministrado por um norte-americano chamado Peter Costello. Todos nós da polícia fomos
informados de que ele era um
agente da CIA. Aí tive a primeira
prova pessoal de que a CIA estava
no Brasil para ficar", diz Barros.
O ex-policial guarda em uma gaveta do escritório César Rodrigues, onde trabalha, no Brooklin
(zona sul de São Paulo), diploma
do curso ministrado pelo norte-americano que ele alega ser da CIA,
emitido pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e assinado, em 12 de março de 1964, pelo então secretário e coronel do
Exército Adélvio Barbosa de Lemos. Segundo Barros, foram levados à Academia Militar do Barro
Branco (zona norte de São Paulo)
os 40 melhores homens das polícias militar, civil e da Guarda Civil
de São Paulo. "Peter Costello, da
CIA, era um senhor de uns 60 anos
de idade, cabelos brancos,
bem-falante, que tinha cursado a
academia norte-americana no Panamá", conta.
Entre os assunto ministrados estavam "segurança de autoridades, sobre como conter grandes
multidões, como se infiltrar em
aparelhos e sobretudo como saber
notar os mais idealistas no meio
de um grupo", ele enumera.
Barros lembra que os 40 policiais
destacados para o curso passaram
por vários testes antes de serem
submetidos às classes -de provas
físicas a exames no detetor de
mentiras, aparelho que tecnicamente é chamado de polígrafo.
"Esse foi o último exame, e o mais
delicado. Queriam saber se os participantes do curso não estavam
escondendo alguma ideologia comunista. Foi o exame a que mais
se ativeram."
Barros, que chegou a ser segurança particular no Brasil do estilista francês Pierre Cardin, em
1982, atravessou a década de 60
como um dos agentes especiais do
Departamento Estadual de Ordem
Política e Social (Deops). Ele era
solicitado pela Oban para buscas e
apreensões de subversivos. A imagem de Barros ganhou as páginas
de todos os jornais e revistas do
Brasil em 1968. Naquele ano, munido de um ancinho e um cabo de
vassoura, conduziu à prisão os
principais líderes da União Nacional dos Estudantes (UNE), no 30º
congresso da entidade, em 1968,
em Ibiúna (SP). Na episódio, mil
estudantes foram presos.
"Prendemos os líderes, José
Dirceu, Luís Travassos e Vladimir
Palmeira. Obtive um efeito psicológico muito forte, pois, em vez de
usar armas, usei um ancinho e um
cabo de vassoura. Nunca torturei,
não consto de nenhuma lista de
torturadores. Na hora de lavrar o
flagrante eu sumi por três dias da
polícia. Disse que estava doente.
Ficaram loucos comigo. E ganhei a
simpatia dos estudantes. Chegaram até a me mandar um bilhete,
pedindo que eu me tornasse informante das esquerdas dentro da
polícia. Não topei isso, da mesma
forma que nunca topei torturar",
diz Barros.
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