São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001 |
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TRECHO "O teste da realidade revelou que o objeto amado não existe mais, passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto. Essa exigência provoca uma oposição compreensível -é fato notório que as pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal, nem mesmo, na realidade, quando um substituto já se lhes acena. Essa oposição pode ser tão intensa, que dá lugar a um desvio da realidade e a um apego ao objeto por intermédio de uma psicose alucinatória carregada de desejo. Normalmente, prevalece o respeito pela realidade, ainda que suas ordens não possam ser obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, com grande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-se psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido. Cada uma das lembranças e expectativas isoladas por meio das quais a libido está vinculada ao objeto é evocada e hipercatexizada, e o desligamento da libido se realiza em relação a cada uma delas. Por que essa transigência, pela qual o domínio da realidade se faz fragmentariamente, deve ser tão extraordinariamente penosa, de forma alguma é coisa fácil de explicar em termos de economia. É notável que esse penoso desprazer seja aceito por nós como algo natural. Contudo o fato é que, quando o trabalho do luto se conclui, o ego fica outra vez livre e desinibido." Trecho extraído de "Luto e Melancolia", de Sigmund Freud (edição eletrônica das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Imago). Texto Anterior: + o trabalho de luto - Slavoj Zizek: Bem-vindo ao deserto do real Próximo Texto: Hans Ulrich Gumbrecht: Notas de uma guerra nada particular Índice |
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