São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Biblioteca básica

Macunaíma

ENEIDA MARIA DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A escolha de um livro entre outros que compõem uma biblioteca básica não deixa de ser um gesto de exclusão e de recorte pessoal. O que me agrada, contudo, é a oportunidade de serem estampadas opiniões diversas sobre o tema, o que resulta na construção babélica e infinita dessa biblioteca. "Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter", rapsódia brasileira moderna publicada em 1928 por Mário de Andrade, é mais um tomo que, de modo gaiato e malandro, ocupa lugar de destaque nessa prateleira. E não se avexa, não.
Eu o colocaria ao lado de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, pela revolução de linguagem iniciada com o modernismo brasileiro, responsável pela revitalização do discurso oral e pela leitura do imaginário nacional, abolindo, de vez, com a fronteira rígida entre o erudito e o popular.
Na construção de um conceito inaugural de cultura brasileira, Macunaíma se notabiliza pelo artefato simbólico de uma linguagem sem nenhum caráter. A invenção e o improviso emblematizam a figura desse herói malandro e tupiniquim. De complexa caracterização, o personagem se comporta na estante da biblioteca de modo errante e sujeito a redefinições conforme o momento da leitura. É esta, talvez, sua maior qualidade: incapturável como símbolo fixo de nacionalidade, passeia pra lá e pra cá, num banzo solitário e em permanente mobilidade significativa.


Eneida Maria de Souza é crítica literária e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais. .

A obra
"Macunaíma", de Mário de Andrade, 480 págs. Ed. UFSC (esgotado). Ed. Villa Rica (tel. 0/xx/31/3212-4600). 175 págs., R$ 22.


Texto Anterior: Ponto de fuga - Jorge Coli: Educação sentimental
Próximo Texto: + autores: Sobre homens e lobos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.