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DIÁLOGOS IMPERTINENTES
As portas do destino
MARIO SERGIO CORTELLA
especial para a Folha
Mais de um século após a ocidental explosão do cientificismo e
da procura obsessiva por uma explicação cada vez mais racionalizada dos caminhos da humanidade, este final de milênio ainda se
curva aos ditames do misterioso e
do incompreensível na vida humana. Aproveitando a idéia de
que, talvez, tudo "esteja escrito
nas estrelas", nós as consultamos
na noite de 28 de setembro, durante duas horas, numa conversa
sobre "O Destino", tendo como
debatedores a psicanalista e socióloga Anna Veronica Mautner e
o jornalista e matemático Cláudio
Weber Abramo.
Oitavo programa da série/99
dos "Diálogos Impertinentes"
-já no seu quinto ano como promoção conjunta Folha, do Sesc
(Serviço Social do Comércio) e da
Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo-, "O Destino"
aconteceu no Tuca (Teatro da
Universidade Católica) na capital
paulista, com transmissão nacional ao vivo pela TV PUC, e teve
ainda a medição de Nelson Ascher, articulista da Folha.
Questão primordial: as ocorrências vivenciais trilham prévios
caminhos ou são casualmente
originadas? Anna Mautner ponderou: "Acho que é casual, mas
tudo o que tem variação tem,
também, um lado de constância;
o que chamamos de destino tem o
aspecto da constância e tem o aspecto das variáveis, das diversidades. Não é o obrigatório; é o possível". Abramo, por sua vez, foi enfático: "Nossas vidas são, essencialmente, um amontoado de situações caóticas que se superpõem umas às outras, e os acontecimentos ocorrem de forma muito descontrolada".
Não seria, então, a preocupação
com o destino a expressão de uma
necessidade religiosa em forma
de narrativa existencial, sobre a
qual as pessoas querem projetar
os fatos e a própria vida como
uma coisa que tem começo, meio
e fim?
Abramo afirmou: "Não compreendo muito bem o pensamento religioso; para mim é um contra-senso completo que alguém
possa manter crenças injustificadas de maneira geral. O ser humano se caracteriza pela racionalidade e esta exige que se pesem as
evidências e que as opiniões das
coisas sejam assumidas nessas
evidências".
De qualquer forma, como lembrou a psicanalista Anna Mautner, há nisso tudo uma fronteira
muito móvel, "em certas circunstâncias tem-se mais ou menos livre-arbítrio, isto é, possibilidade
de participar do que vai ocorrer e,
ao mesmo tempo, existem outras
coisas sobre as quais eu não tenho
nenhuma possibilidade".
Ainda bem; mantivemos o bom
astral...
Mario Sergio Cortella é professor do departamento de teologia e ciências da religião da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/Cortez).
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