São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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+Sociedade
Bichos-grilos

Livro lançado nos EUA ataca o modo cruel e mimado de criação de animais domésticos e de abate DWIGHT GARNER

Na Língua dos Bichos" (ed. Rocco), de Temple Grandin, ocupa um lugar especial entre os livros sobre animais lançados nas últimas décadas. O autismo de Grandin lhe confere uma compreensão especial do que pensam, sentem e desejam os animais, quer sejam gatos domésticos ou gado. Seu novo livro, "Animals Make Us Human - Creating the Best Life for Animals" (Os Bichos Nos Humanizam - Criando a Melhor Vida para os Animais, ed. Houghton Mifflin, 342 págs., US$ 26, R$ 60), escrito com Catherine Johnson (assim como o livro anterior) retoma onde "Na Língua dos Bichos" terminou.
Desta vez ela trata sobretudo da vida emocional dos bichos, mais que da física, embora as duas evidentemente estejam ligadas. "A regra é simples", escreve Grandin. "Não estimule a cólera, o medo e o pânico, se possível, e estimule a busca e a brincadeira."
O livro inclui capítulos provocantes sobre cães e gatos, mas se mostra em sua melhor forma quando discorre sobre animais como vacas, porcos, cavalos e galinhas, além de animais selvagens e animais mantidos em zoológicos. Grandin projetou sistemas de abate humanitários e livres de estresse que hoje são usados com cerca de metade do gado dos Estados Unidos e do Canadá. Há alguma dissonância cognitiva aqui. Ela conta que frequentemente lhe perguntam: "Como você pode preocupar-se com os bichos quando projeta matadouros?"

Qualidade de vida
Sua resposta é que "algumas pessoas pensam que a morte é a coisa mais terrível que pode acontecer a um animal". Ela argumenta que "a coisa mais importante para um animal é a qualidade de sua vida". Acrescenta: "Quanto mais eu observo e descubro sobre como os cachorros são cuidados hoje em dia, mais me convenço de que muitas cabeças de gado levam vidas melhores do que alguns bichos de estimação muito mimados. Hoje em dia muitos cachorros passam o dia todo sozinhos, sem companheiros humanos ou caninos". Ela acha preocupante a relação "totalmente de conflito" que existe entre os grupos de defesa dos animais e a indústria do gado. Tem palavras positivas a dizer a respeito de empresas como McDonald's e Wendy's (já atuou como consultora para ambas), que estão obrigando seus fornecedores a dar tratamento melhor aos animais. Mas também elogia os ativistas. Mais eis algo que me veio à cabeça enquanto estava lendo "Os Bichos Nos Humanizam": o que ela teria a dizer sobre metrôs, conjuntos habitacionais, estádios, prisões, cubículos em escritórios, ônibus interurbanos, abrigos para sem-tetos, elevadores e, quem sabe, a fila para a revista de segurança no aeroporto de La Guardia [em Nova York]?


A íntegra deste texto saiu no "New York Times". Tradução de Clara Allain . ONDE ENCOMENDAR - Livros em inglês podem ser encomendados pelo site www.amazon.com


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