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Um olhar britânico sobre o "exotismo" de brasileiros e persas
JEAN MARCEL CARVALHO FRANÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 1809, depois de quase dois séculos de relações comerciais com os ingleses, a Pérsia
resolveu enviar à Inglaterra a sua primeira missão diplomática. Encabeçava-a Abu-l-Hasan Muhammad Alí Shirazí, um iraniano culto e simpático à cultura ocidental. Hasan passou uns poucos meses na Inglaterra e retornou para a Pérsia, em 1810, levando consigo um
grupo diplomático inglês, liderado pelo orientalista sir Gore Ouseley e secretariado pelo
também orientalista James Justinian Morier (1780-1849), homem com vasta experiência
na Pérsia e que se tornaria célebre pelos romances "Aventuras de Hai Baba de Isfahán"
(1824) e "Aventuras de Hai Baba de Isfahán na Inglaterra" (1828). Durante essa viagem de
regresso à Pérsia, o navio que conduzia as missões diplomáticas, o Lion, arribou no Rio de
Janeiro, um porto amigo, que então abrigava uma vasta comunidade inglesa e oferecia excelentes condições para reabastecer a embarcação.
Os visitantes passaram somente 15 dias na cidade, mas, segundo o testemunho de um
contemporâneo, o padre Luiz Gonçalves dos Santos (Perereca), atraíram a atenção e excitaram a curiosidade de todos; afinal, era a primeira vez que os brasileiros viam um persa,
com "seu vestuário talar, todo de seda, o turbante e as grandes barbas". É a descrição dessa
inusitada visita, registrada num dos livros de Morier, intitulado "A Second Journey
Through Persia" [Segunda Jornada pela Pérsia] -publicado na Inglaterra em 1818 e ainda sem tradução integral para o português-, que o leitor encontra acima. Trata-se, é bom
lembrar, da perspectiva que deixou um europeu do encontro entre dois povos que, aos
seus olhos, olhos de um inglês culto do início do século 19, eram ambos exóticos.
Jean Marcel Carvalho França é professor de história na Universidade Estadual Paulista (Franca-SP). É autor de
"Literatura e Sociedade no Rio de Janeiro Oitocentista" (Imprensa Nacional/ Casa da Moeda).
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