São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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Tucanato

LEONARDO AVRITZER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Grupo que se viu alijado do poder em 2002 e sem perspectiva de uma volta rápida ao Planalto. Tal situação os deixou extremamente incomodados, uma vez que haviam se desacostumado com a vida na planície. Posição em relação ao escândalo atual: euforia cautelosa. Os tucanos sabem que o escândalo que explodiu na mão do presidente Lula é um escândalo do presidencialismo de coalizão e que pode afetá-los tanto quanto afeta o atual governo. Afinal, José Dirceu não fez muito mais que copiar a receita de FHC para lidar com o Congresso: cooptá-lo e despolitizá-lo através da oferta de cargos e benesses no poder central.
Até agora os tucanos conseguiram escapar relativamente ilesos do escândalo nos Correios e do "mensalão". Eufóricos com a perspectiva de voltarem ao poder antes do que imaginavam, sua estratégia é não radicalizar o Congresso contra o governo, porque sabem da popularidade do presidente. Principal perigo no futuro: que a perspectiva de volta ao poder gere divisões no seu interior. Quatro projetos políticos podem se enfrentar: o do ex-presidente FHC, que gostaria que a sua década no governo deixasse de ser avaliada como herança maldita; a do atual prefeito de São Paulo, José Serra, que acha injusto ter de continuar na prefeitura tendo chances de se torna presidente; a posição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que acha que nada mudou e que sua candidatura está consolidada; e, finalmente, a posição do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, cujo projeto passava por uma derrota do PSDB de São Paulo para o PT.


Leonardo Avritzer ensina ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais.


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