São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIÁLOGOS IMPERTINENTES
Fronteiras naturais

da Redação

As relações entre natureza e cultura e a busca de determinações biológicas para explicar situações tidas como produtos do meio social foram os principais pontos de discussão dos "Diálogos Impertinentes" realizados em junho.
Participaram do debate, cujo tema foi "O Natural", o antropólogo Edgar Assis Carvalho e o psicólogo Paulo Gaudêncio. Carvalho, com pós-doutorado em antropologia social pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, na França, é professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) desde 1969.
Gaudêncio, médico psiquiatra formado pela Universidade de São Paulo, também foi professor na PUC-SP. Dedica-se há 38 anos à psicoterapia de grupo e supervisiona uma equipe de pesquisa que presta serviços a empresas.
O programa foi mediado por Mário Sérgio Cortela, professor do departamento de teologia da PUC-SP, e pelo jornalista Marcos Augusto Gonçalves, editor de Domingo da Folha.
Para Carvalho, a definição das fronteiras entre o natural e o social ainda é "um problema para a ciência". Guiando-se pela antropologia, ele disse ver "na natureza o domínio da universalidade e na cultura o mundo da relatividade, da regra, do padrão".
Carvalho citou o antropólogo Claude Lévi-Strauss, para quem a passagem do natural para o cultural é marcada pela proibição do incesto. Ele afirmou, contudo, que pesquisas recentes com primatas revelam comportamentos que poderiam ser considerados "culturais". Sendo assim, a cultura poderia "deixar de ser exclusiva do homo sapiens para estar também nessa fronteira complicada dos nossos primos mais próximos".
Gaudêncio concordou com Carvalho nas questões referentes à interdição, mas ambos polemizaram quando o tema foi a determinação genética de alguns comportamentos.
No caso específico do homossexualismo, Gaudêncio, embora levando em consideração aspectos culturais, endossou as teorias que identificam causas genéticas para o que seria não uma opção, "mas uma imposição sexual".
Para Carvalho, "essas teorias que trabalham com a homossexualidade como problema genético são teorias fascistas".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.