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+Cultura
Quebrando as regras
Retrospectiva em Paris traz vídeos, pinturas e fotos da coleção do diretor americano Dennis Hopper
ISABELLE REGNIER
Dennis Hopper esteve em Paris para a
retrospectiva cinematográfica e a exposição "Dennis
Hopper e a Nova Hollywood",
na Cinemateca Francesa.
Nela, o norte-americano nascido no Kansas, em 1936, aparece como um artista completo, fotógrafo, pintor, superando
amplamente sua imagem de
ator diabólico e de diretor de
"Sem Destino", filme emblemático dos excessos dos anos
1960 e 70.
PERGUNTA - A exposição começa
com "Hotel Green (Entrance)", um
"ready-made" co-assinado com
Marcel Duchamp...
DENNIS HOPPER - Em 1963 foi
realizada em Pasadena (Califórnia) a primeira e única retrospectiva de Marcel Duchamp, um artista muito importante para mim.
Andy Warhol, Jasper Johns,
Robert Rauschenberg, Ed Ruscha, todos os artistas de Los
Angeles e Nova York se reuniram para essa exposição.
Duchamp estava hospedado
no Hotel Green, e, na noite da
inauguração, vi essa placa
-"Hotel Green Entrance". O
dedo apontado me impressionou, porque eu o havia visto em
um de seus quadros de 1923.
Munido de tesouras especiais,
roubei o cartaz e o dei a Duchamp, que o assinou.
Duchamp dizia que o artista
do futuro não seria um pintor,
mas alguém que mostraria
qualquer coisa com o dedo e decretaria que era arte. É o sentido que esse dedo tinha para
mim. É o que faz o fotógrafo
com sua câmera.
PERGUNTA - Como conciliou suas
atividades de pintor e fotógrafo?
HOPPER - Parei de pintar depois
do incêndio que destruiu meu
ateliê em 1961, com todos os
meus quadros. Felizmente,
graças a uma exposição de minhas fotos que se realizava naquela noite, meus negativos foram salvos. Naquela época, em
Los Angeles, os fotógrafos não
expunham com os pintores. Os
marchands eram tão retrógrados que vendiam obras de Man
Ray nos fundos das galerias.
Eu quebrava constantemente as regras. Como Marcel
Raysse, com quem expus em
1964 em Los Angeles, eu fazia
grandes fotos nas quais montava objetos. Afirmava que as máquinas iam substituir os pincéis, que eram bons para os homens das cavernas...
Desenvolvi essa retórica até
1967. Então comecei a filmar
"Sem Destino" e parei de tirar
fotos, de fazer arte. Recomecei
a pintar nos anos 1980.
PERGUNTA - Seu retrato por Andy
Warhol, cujas obras o sr. comprou
desde cedo, está exposto. O sr. participou de seu filme "Tarzan and Jane
Regained... Sort of". Que lembrança
guarda dele?
HOPPER - Foi o primeiro filme
que Warhol dirigiu. Era ridículo, pelo menos do ponto de vista dos padrões hollywoodianos.
Ele dizia: você fique aí três
minutos e chega. Andy era genial para apontar com o dedo, a
la Duchamp. A lata de sopa, as
estrelas de cinema, a cadeira
elétrica, os desastres. É isso que
também era interessante em
seus primeiros filmes, "Sleep",
"Haircut", "Eat", "Blowjob".
Era um pouco como Roger
Corman, que aproveitava tudo
o que acontecia de novo. "Ah, o
LSD, genial, vamos fazer um filme", e fez "The Trip" (1967).
Aqui, o gênio está em suas
idéias, e não em sua implementação, a mais barata possível.
PERGUNTA - Seu filme "Sem Destino", apresentado como o pontapé
inicial da nova Hollywood, simbolizada por Scorsese ou Coppola, está
no centro da exposição...
HOPPER - "Sem Destino" foi o
primeiro filme independente
distribuído por um grande estúdio. Eu me orgulho muito dele, e foi o único dos meus filmes
que fez sucesso.
Em 1971, "The Last Movie"
ganhou o grande prêmio da
Mostra de Veneza, mas nunca
foi distribuído adequadamente. Ficou duas semanas em exibição em Nova York, outras
tantas em Los Angeles, três dias
em San Francisco. Foi retirado
do circuito porque eu não quis
remontá-lo. Nunca foi lançado
na Europa. Em 1988, fiz "Cores
da Violência", com Sean Penn e
Robert Duvall, mas, fora isso...
Há 16 anos tento dirigir um
novo filme. É muito frustrante.
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
NA INTERNET - A exposição sobre
Dennis Hopper fica em cartaz na Cinemateca de Paris até 19 de janeiro.
Confira a programação em
www.cinematheque.fr
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