São Paulo, domingo, 27 de maio de 2001

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Acaba de sair nos EUA o livro "Brazil 2001 - A Revisionary History of Brazilian Literature and Culture" (University of Massachusetts Dartmouth Press), com ensaios de Silviano Santiago, Roberto DaMatta e Carlos Guilherme Mota, entre outros. O Mais! ouviu o seu editor, João Cezar de Castro Rocha, 36, professor da Universidade do Estado do RJ.
No livro há muitas divergências em relação às interpretações tradicionais?
Há uma divergência básica quanto ao projeto de "pensar" o Brasil. Recusamos a idéia de um Brasil "profundo", anterior às explicações que buscam construí-lo. As interpretações são tão importantes quanto as relações concretas que ocorrem neste território físico/imaginário denominado "Brasil". No entanto também recusamos um construtivismo ingenuamente "pós-moderno", não dizemos que o "Brasil" se reduza a suas interpretações.
Por que a "revisão" no subtítulo?
Há uma contradição fundamental nos mais importantes "pensadores" do Brasil: seus textos desenvolvem uma "arqueologia da ausência". Embora busquem definir a "brasilidade", acabam repetindo o artifício da teologia negativa. Nossos pensadores definem o país pelo que ele não foi -moderno, democrático etc.-, pelo que deixou de ser -igualitário, iluminista- ou pelo que ainda não é -Primeiro Mundo, potência mundial. Daí sermos o eterno "país do futuro". Essa contradição deve ser mais bem estudada: é essa reflexão que pretendi iniciar com "Brazil 2001".
Por que, na sua opinião, o Brasil costuma se ver e se apresentar como enigma?
Os intelectuais brasileiros adotam uma estratégia equivocada ao pressupor que, para entender o Brasil, é preciso ser brasileiro ou ao menos "abrasileirado". Com isso quem perde são nossos escritores e artistas, cuja universalidade potencial é abafada pela afirmação da "brasilidade". A cultura brasileira não é mais enigmática que outras. Precisamos, sim, de uma política séria de difusão cultural.



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