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"Diplomacia do pingue-pongue" ajudou a "détente"
Encontro de esportistas facilitou
projeto de reaproximação entre EUA
e China
DE WASHINGTON
Em conversa recente com
a Folha, Edward Luttwak, analista do conservador Center for Strategic and
International Studies, disse
que, depois dos fracassos republicanos do Iraque e do Afeganistão, só um democrata progressista como Barack Obama
poderia atacar militarmente o
Irã. Da mesma maneira, afirmou ele, só um republicano
conservador pôde reaproximar
os EUA da China comunista no
auge da Guerra Fria (1945-91).
O republicano em questão
foi Richard Nixon (1913-94),
que visitou o país em 1972, o
primeiro presidente norte-americano a colocar os pés na
República Popular. O californiano assumira a Casa Branca
em 1969 e dela sairia em desgraça, em 1974, ao renunciar na
esteira do caso Watergate.
No meio-tempo, no entanto,
lançou o que seria a pedra fundamental para a restauração
diplomática dos dois países,
ocorrida sete anos depois. Foi
numa visita que resultou num
comunicado conjunto em que
se determinava que nenhum
dos dois países nem qualquer
outra potência poderia buscar
a hegemonia naquela região.
Uma das ações que antecederam o encontro e ajudaram a
vendê-lo ao público foi o que ficou conhecido como "diplomacia do pingue-pongue", primeiro relatada como um fortuito
encontro de esportistas em Tóquio, em abril de 1971, onde os
times de tênis de mesa dos
EUA e da China participavam
de um torneio.
Um dia, uma das estrelas da
delegação americana, Glenn
Cowan, teria entrado por engano no ônibus da delegação chinesa e tido uma recepção fria. A
exceção foi a estrela do time
comunista, Zhuang Zedong,
que, compungido pela situação
do colega, mostrou-se amistoso, lhe dando uma pintura.
Mais tarde, Cowan agradeceu
dando uma camiseta com o
símbolo da paz ao chinês.
Quando o relato da história
chegou a Pequim, o regime comunista convidou a delegação
norte-americana para uma visita oficial ao país, a primeira
do tipo desde a revolução comunista. Décadas mais tarde,
numa palestra na Califórnia,
em 2007, Zhuang Zedong confessou que, embora a orientação oficial então fosse mesmo
evitar contato com os americanos, Mao Tse-tung havia lhe dito pessoalmente que buscasse
uma aproximação com eles.
A visita dos esportistas aconteceu e encantou o mundo. Tênis de mesa à parte, o fato é que
o dirigente chinês procurava
meios de estreitar contatos
com Washington pelo mesmo
motivo que Nixon tentava se
aproximar de Pequim: ambos
os governos queriam diminuir
a influência da então União Soviética no país.
A chegada do presidente norte-americano aconteceu entre
21 e 28 de fevereiro de 1972,
quando Nixon foi recebido por
Mao e se reuniu algumas vezes
com o então primeiro-ministro, Chou En-lai. Ela veio na esteira de uma visita então secreta do assessor de Segurança
Nacional e depois Secretário de
Estado de Nixon, Henry Kissinger, que desviou para Pequim durante viagem ao Paquistão, em julho de 1971.
Considerado o autor intelectual do encontro e o homem
mais influente da política externa americana por quase
uma década e sob dois presidentes, Kissinger fora preparar
o terreno para a visita oficial.
Ele se encontraria de novo com
Mao em 1973, segundo documentos tornados públicos no
ano passado.
Então, já com a saúde afetada, o dirigente propôs em tom
de brincadeira que a China exportasse 10 milhões de mulheres para os EUA. Elas não vieram, mas nas décadas seguintes o país exportaria tudo o que
os EUA quisessem comprar.
(SÉRGIO DÁVILA)
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