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NOVOS AUTORES - FICÇÃO
O vazio da ação
BERNARDO AJZENBERG
Secretário de Redação
O que torna interessante o romance "A Educação pela Espada", estréia do paulistano Antonio Sampaio Dória, é a ação. Ação
entendida filosoficamente e, também, como chave narrativa.
O enredo é secular: jovem atormentado por crise existencial,
ameaçado pelo desemprego e desajustado com namoradas sai em
busca de um oráculo, uma filosofia que o ajude a matar todos os
coelhos numa só cajadada; encontra-o na figura de um professor de
caratê, com o qual, conforme a
tradição do gênero discípulo-mestre, estabelece uma relação de
ódio e admiração.
A ação se mostra o elemento essencial da pregação de Tadashi
Watai, o dito professor, e o livro
permite-nos, assim, entrar em
contato crítico com vertentes da
chamada filosofia oriental e outras, mais ou menos devotas do
misticismo; acompanhar treinos
de caratê e ver de perto como funciona o setor de Controladoria de
uma empresa de informática.
Dória aplica o princípio da ação
-assim como seu personagem-
na técnica utilizada para narrar os
episódios. Eles então se sucedem
com rapidez aos olhos do leitor,
sem que este se dê conta de estar
avançando as páginas e se envolvendo nos dramas de certa juventude paulistana do início dos anos
90 como quem vê televisão ou se
depara com um painel eletrônico
numa esquina.
Parágrafos curtos, troca constante de ambientes, alternância de
cenários, capítulos de tamanhos
quase idênticos, muito diálogo
-o autor adota, com efeito, as
fórmulas apropriadas para tornar
ágil e fácil a leitura.
Aí entra, porém, aquilo que torna o livro de Dória não apenas interessante, mas também frágil. É o
vazio. Vazio no sentido de que ao
final ficamos na verdade sem entender muito bem a tal filosofia do
mestre Watai -a não ser que ela
se reduza, o que não parece ser a
intenção do autor, a um mero instrumento para uma absolutamente inverossímil e ingênua batalha
pelo poder dentro de uma empresa.
Vazio também no que se refere à
construção dos personagens, em
particular do protagonista (narrador em primeira pessoa, cuja ausência de nome, enquanto todos
os outros personagens o têm, expressa o lapso), o qual acabamos
por não saber exatamente de que
farinha é formado. Sua crise é difusa.
Vazio nos diálogos, principalmente naqueles entre namorado e
namorada: inúmeras sequências
de indagações bobocas, para lá de
ocas e cansativas.
Ou, por fim, em passagens altamente filosóficas (com perdão pela ironia), como esta: "Seguimos
andando, subimos degraus amarelos e fiquei contando os degraus.
Diante do cinema, surgiu a questão. Que filme veríamos? O filme
romântico ou o filme de ação,
anunciado agressivamente por toda a cidade? O conflito estava armado" (Oh!).
Sampaio Dória tem habilidade
narrativa evidente, escreve de modo leve e agradável para a leitura;
economiza digressões; sabe deter a
atenção do leitor ávido por um
bom entretenimento. Mas falha
no recheio. Ao contrário do que
acontece com o personagem principal, falta-lhe encontrar um caminho, na própria literatura, que
dê mais consistência a essa ação
autoral.
A OBRA
A Educação pela Espada -
Antonio efinitiva"), Sampaio
Dória. Ed. Ysayama (r. Ferreira de
Araújo, 307, CEP 05428-000, SP,
tel. 011/212-0884). 321 págs.
R$ 20,00.
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