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RISCO NO DISCO
Bisturis
LEDUSHA SPINARDI
Chego do hospital num
táxi sonâmbulo, a tarde farfalhando enquanto se apaga: tu n'oublieras jamais
mes yeux dants ta nuit, cerises noires, cerises noires...
Com os dedos trêmulos
tateio o bordado de tulipas
e folhas retorcidas na vira
do lençol. Posso sentir o inchaço dos tecidos ressentidos, o tom púrpura da carne costurada amortecida
sob as gazes.
Abro os olhos: o porte arrogante rente à porta tenta
maquiar a enxurrada de
raiva, amor e intangível
tristeza. Setas tesas, seguras
pelo medo às profundezas.
Arrisco: "O que houve enquanto morri oficiosamente?".
Alheio e fúnebre: "Esperei você acordar. A chave
está na mesa, com o suéter".
Sentimentos, solilóquios,
relógios caducos.
Pouso as mãos no vão entre os seios. Vale de lágrimas.
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