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Edição está ameaçada
Herdeiros de Lobato entram
na Justiça contra Brasiliense
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especial para a Folha
Os herdeiros dos direitos autorais
dos livros de Monteiro Lobato -36
títulos entre literatura infantil e adulta- tentam, há dois meses, entregar
uma notificação de ação judicial à responsável pela Ed. Brasiliense, Yolanda
Prado. Segundo essa notificação, os
herdeiros consideram "rescindido o
contrato assinado por Lobato em 1945
para publicação de sua obra integral,
por quebra de cláusulas contratuais".
Na Brasiliense, informa-se que
Yolanda Prado se encontra em estada prolongada nos EUA, "em
conversas com vários editores, para publicação de novas séries e autores". A editora, cujo catálogo
tem cerca de 1.500 títulos, enfrenta
dificuldades financeiras desde a
morte prematura do antigo diretor, Caio Graco Prado, em 92. A
empresa tem fechado livrarias e
seu balanço do ano de 95 aponta
prejuízo de mais de R$ 400 mil.
Inusitadamente, o contrato de
Lobato com a editora é "ad infinitum", ou seja, sem prazo de validade. O escritor morreu três anos
após a assinatura, sem rever cláusulas. Tinha confiança ilimitada
no amigo Caio Prado Jr., e em 46
chegou a se tornar sócio da editora. Por artes da inflação, suas quotas se tornaram irrisórias 20 anos
depois.
As causas da atual apelação judicial são as seguintes, segundo os
herdeiros: "Impossibilidade de
obter demonstrativos de venda
com respectivos documentos
comprobatórios, principalmente
em vendas por atacado, e ocorrência de títulos com menos de 200
exemplares em estoque, vários
chegando a zero". Está sendo solicitada uma peritagem na contabilidade e no estoque da editora.
Além disso, "existe a profunda
decepção da família com a incapacidade de a Brasiliense reeditar a
obra infantil de Lobato, com novas ilustrações e diagramação,
neste ano consagrado à memória
do autor; as muitas reuniões para
esse fim mantidas em 96 e 97 foram inconclusivas e o valor de
marketing para a nova edição
também não foi confirmado, ao
passo que no próprio contrato dos
anos 40 o sempre visionário Lobato já estipulava verba considerável
para "propaganda'", diz Jorge
Kornbluh, diretor da "Monteiro
Lobato Licenciamentos Ltda." e
casado com Joyce Campos, neta
do escritor. "Conhecedoras da situação da Brasiliense, as cinco
maiores editoras do país nos procuraram recentemente. Apesar de
nosso respeito por Danda (Yolanda) como pessoa e intelectual, a
obra de Lobato não tem recebido o
tratamento que merece", diz ainda Kornbluh.
Respondendo, nesta semana, em
nome de Yolanda Prado, perguntas formuladas pela Folha, a vice-presidente da Brasiliense, Maria Teresa B. de Lima afirmou que
a empresa não tem conhecimento
da atual ação legal: "Esta é uma
triste notícia. Os herdeiros já nos
acionaram uma vez, pelos mesmos motivos, e perderam na Justiça. A Brasiliense cumpre rigorosamente o contrato com os herdeiros da família Lobato". Sobre as
vendas atuais da série infantil, ela
informa que quatro dos títulos
atingiram "mais de 50 mil exemplares vendidos, cada um, do final
de 94 ao final de 97". A marca é
bem próxima daquela alcançada
pelos best sellers contemporâneos
da área infanto-juvenil, como "O
Mistério do Cinco-Estrelas" (de
Marcos Rey, Ed. Ática); mas fica
aquém de um autor descrito por
sua editora (Moderna) como "o
Lobato de nossa época": Pedro
Bandeira vende uma média de 50
mil exemplares de cada título em
apenas um ano.
"Nosso plano maior é continuar
honrando o contrato firmado entre Caio Prado Jr. e Lobato em 27
de junho de 1945. No próximo Dia
da Criança, pretendemos lançar os
dois primeiros volumes da coleção
"Rocambole', adaptações da série
infantil de Lobato com ilustrações
coloridas de Moacir Rodrigues, e
ainda uma edição comemorativa
de "O Presidente Negro'", defende-se a Brasiliense.
As relações com a editora são
apenas uma parte dos negócios geridos pela "Lobato Licenciamentos", que detém também direitos
sobre o uso dos personagens do
escritor, incluindo o Jeca Tatu.
Entre os vários contratos que
mantém, há o de exclusividade de
montagens teatrais da obra infantil no Estado de São Paulo, até
1999, para o teatro Imprensa
(SBT). A primeira adaptação, "No
Reino das Águas Claras", está
com 90% dos assentos ocupados e
tem aprovação da família. Há também o licenciamento para
CD-ROMs do "Sítio do Picapau
Amarelo" (Pam Ltda.) e até mesmo propostas de construção de
um parque temático.
As cessões da obra e personagens de Lobato abrangem ainda a
Internet. Receberam chancela os
sites www.lobato.com.br e
www.monteirolobato.art.br.
Em parceria com a família de Lobato, a Fundação Banco do Brasil
e a construtora Odebrecht patrocinam este ano o "Projeto Memória", com uma exposição itinerante ("O Brasil Encantado de
ML"), videodocumentário (em
produção), programação visual de
agências do BB e outras realizações.
(AM)
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