São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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Espiritismo atraiu escritor

especial para a Folha

O aspecto é pouco conhecido na vida de Lobato, e mesmo as biografias não se detêm nele. Contudo, na década de 40 o escritor incursionou pelos caminhos do espiritismo. O interesse surgiu após a morte dos filhos Guilherme e Edgard, ambos por tuberculose, respectivamente em 1938 e 1943.
Abalado, Lobato passou a promover experiências metapsíquicas, ou seja, "comunicação com almas dos mortos". Sua mulher, Purezinha, funcionava muitas vezes como médium, e o método escolhido era o do copo que indica letras segundo o manejo dos participantes da sessão.
Lobato detalhava as experiências em "atas", e 49 desses documentos foram publicados pela Ed. Nova Luz em "Monteiro Lobato e o Espiritismo". A compilação é de Maria José Sette Ribas, iniciadora de Lobato no assunto, à qual o escritor confiou atas datadas de dezembro de 43 a março de 47.
O livro espírita traz, ainda, um "prefácio póstumo de Lobato, psicografado" (1971), com chistes ao estilo do escritor: "(...) Ao pousar em Pedro Leopoldo, desanimei... Estavam a rodear o Chico Xavier mais de 200 espíritos, aguardando a oportunidade de usar-lhe a mão!". O trecho repete termos da última carta de Lobato ao amigo Godofredo Rangel, em junho de 48, na qual diz que, após sua morte pressentida, procuraria o famoso médium para "remover as dúvidas" dos entes queridos.
Porém, nem o prefácio nem as centenas de outras "comunicações póstumas" surgidas mencionaram frase comunicada por Lobato a sua mulher e a Rangel, especialmente com o fito de autenticar sua identidade nessas circunstâncias. A frase, espécie de senha de segurança, é guardada em cofre até hoje pelos herdeiros de Lobato e de Rangel, mas jamais foi citada em qualquer "comunicação".

Lobato é tema de ópera
Lobato se transforma em ópera no dia 4 de setembro, em São Paulo. "A Redenção pelo Sonho" cantará as venturas e desventuras do polemista, empresário e escritor. Libreto e música são do compositor carioca Tim Rescala.
A montagem deve ocupar por duas semanas o palco do teatro Sesc Ipiranga. A direção é de Naum Alves de Souza, com a participação de sete músicos, cinco cantores e um ator bonequeiro.
Pontos de partida para o argumento foram a biografia "Furacão na Botocúndia" e o estudo "Os Filhos de Lobato", de José Roberto Whitaker Penteado.
Rescala imaginou para a ópera uma "última carta" de Lobato a Rangel, na qual o primeiro relata seu desânimo com o insucesso de muitos de seus empreendimentos. Figuras da vida real ou personagens de seus livros aparecem então para convencê-lo do contrário. A música inclui elementos de serialismo, atonalismo e minimalismo. (AM)



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