São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A REGRA DO JOGO

PARA JOHN BATTELLE, CO-FUNDADOR DA "WIRED", GOOGLE PODE TER IMAGEM ARRANHADA

DA REDAÇÃO

Contrário à idéia de demonização ou endeusamento do Google, o professor de comunicação da Universidade da Califórnia em Berkeley John Battelle diz que o site de busca apenas aceitou as regras do jogo mercadológico ao concordar com as restrições de conteúdo impostas pelo governo chinês. Para ele, isso não compromete totalmente a idéia de liberdade de expressão pela internet.
Segundo Battelle, que é autor de "The Search - How Google and Its Rivals Rewrote the Rules of Business and Transformed Our Culture" (A Procura - Como o Google e Seus Concorrentes Reescreveram as Regras dos Negócios e Mudaram Nossa Cultura", ed. Portfolio) e co-fundador da revista "Wired", o Google não é moralmente pior nem melhor de que empresas como Yahoo! e Microsoft, e não tem planos malignos de remodelar a cultura do planeta.
 

Pergunta - O fato de o Google ter aceito as restrições de conteúdo exigidas pelo governo chinês limitam a idéia de liberdade na internet?
John Battelle -
Foi sem dúvida uma decisão muito difícil para o Google, mas foi inevitável e com certeza deve ter desapontado muita gente que esperava que a empresa agisse de forma diferente. O Google agiu como qualquer outra empresa que quer trabalhar na China e aceitou jogar pelas regras do país, o que não compromete seu o projeto, mas pode ter um efeito negativo em sua imagem.
Foi uma decisão de mercado. Mas não acho que tenha sido uma decisão errada ou que vá comprometer totalmente a liberdade de expressão ou mesmo a liberdade de circulação de informações na internet.

Pergunta - O senhor acha que deveríamos ter medo do Google?
Battelle -
Devemos sempre desconfiar quando permitimos que uma empresa tenha acesso a detalhes de nossa vida privada. Nesse caso, é o que nós fazemos ao realizar buscas na internet, ao utilizar o correio eletrônico e todas as outras aplicações oferecidas pelo Google. Dito isso, ele não é pior nem melhor do que o Yahoo! ou a Microsoft.
Quanto às empresas tradicionais, como editoras ou operadoras telefônicas, a intrusão do Google em seu mercado as obriga a rever sua forma de trabalhar. Elas têm boas razões para temê-lo mas também podem trabalhar com ele e achar novas formas de obter retorno do mercado.

Pergunta - É saudável que uma empresa construa um monopólio de pesquisa e inovação na internet?
Battelle -
Ela é simplesmente a primeira a fazer o que faz. Graças a Deus não tem nada a ver com a Microsoft dos tempos da dominação do Windows. No futuro, o Google oferecerá tudo o que a informática permite oferecer em escala mundial. Mas a inovação vai se concentrar no que permite adicionar conteúdo a seu índice, pois isso permitirá aumentar sua publicidade.

Pergunta - O Google tem um objetivo preciso?
Battelle -
Tenho certeza de que o Google tem "planos", como todas as empresas. Mas não acho que impor uma dominação anglófona faça parte desses planos. Os que dirigem a empresa não tiveram cuidado ao cuidar dos aspectos jurídicos -dos direitos autorais, especialmente- e acreditaram estar em seu direito ao decidirem recolher informações de outros sites (Google News) ou com a digitalização de livros (Google Print). O que interessa ao Google é alcançar e realizar tudo o que é tecnicamente possível. Isso é típico das empresas dirigidas por engenheiros.


Com o "Le Monde".


Texto Anterior: Breve história da internet
Próximo Texto: A máquina universal
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.