São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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Para eles, apesar da paixão pelo cinema, considerada excessiva, ele está progredindo sem muitos problemas. Mas a verdade é bem outra, como demonstra o episódio que sobrevém em meados de setembro: uma máquina de escrever desapareceu misteriosamente do escritório de Roland Truffaut nos Éclaireurs de France, na rue de Chausée-d'Antin. Foi François quem a furtou certa noite, enquanto Robert controlava as idas e vindas do vigia noturno. A máquina é revendida dois dias depois a Jacques Enfer, um amigo cinéfilo mais velho, por 4.000 francos, que servem para financiar em parte as primeiras sessões do Círculo Cinêmano. Mesmo vendendo alguns livros e tomando de empréstimo ao dono da livraria-papelaria e à sra. Bigey, a avó de Robert, Truffaut não consegue pagar suas dívidas.
A sessão do domingo, 28 de novembro, na qual Truffaut e Lachenay projetam "Ben Hur", de Fred Niblo, é um fracasso. Truffaut vê-se forçado a confessá-lo ao dono do Cluny, justificando-o pela concorrência acirrada dos outros cineclubes. Com efeito, no mesmo dia e na mesma hora o cineclube da associação Trabalho e Cultura, de militância cultural, realiza sua sessão com palestra de André Bazin e todas as sessões são concorridíssimas, muita gente querendo ouvir o brilhante crítico e pedagogo. Destemido, Truffaut decide procurar Bazin, com a firme intenção de convencê-lo a mudar os dias de sessão.
Na terça-feira, 30 de novembro de 1948, ele vai à sede de Trabalho e Cultura, na rue des Beaux Arts, em Saint-Germain-des-Prés, e sobe ao segundo andar. Lá chegando, diz que gostaria de falar a André Bazin. Ignora naturalmente a que ponto este encontro seria decisivo em sua vida. Compreensivo, de uma generosidade espontânea, Bazin simpatiza com o jovem e entusiástico cinéfilo. O homem que vem atender Truffaut no acanhado e bolorento escritório de Trabalho e Cultura tem 30 anos.
Magro, algo recurvado, o olhar vivo, Bazin é então a personalidade em torno da qual giram os jovens críticos.


continua




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