São Paulo, domingo, 29 de março de 1998

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Um advogado, Maurice Bertrand, foi oficialmente designado para o caso, e François confessou. Sobre o caso em seu conjunto, dívidas reconhecidas, mas já quitadas pelo pai, roubos confessados pelo filho, caberá ao juiz do tribunal do "9ème. Arrondissement" deliberar. Ele se inclina pela clemência: Roland Truffaut é condenado a pagar multa de 12.000 francos em nome de seu filho, que será internado numa instituição ao sair de Villejuif até sua maioridade ou emancipação, com a possibilidade de trabalhar fora em meio expediente se conseguir um emprego.
Em seu encarceramento, Truffaut não deixa de encontrar algum reconforto. Cultivado e simpático, embora não se abra muito, ele atrai o interesse de alguns adultos ligados à instituição penal e judiciária. Raymond Clarys, diretor do Centro de Observação de Villejuif, afeiçoa-se a François, não obstante seus destemperos, fornecendo-lhe regularmente jornais ou revistas de cinema. Há sobretudo a srta. Rikkers, a "spicóloga", como diria Antoine Doinel em "Os Incompreendidos". Ela vai ao encontro de François várias vezes, para longas conversas. Seu papel torna-se inclusive essencial para aliviar um pouco sua ficha, que logo se distancia do registro inicial: do "instável psicomotor de tendências perversas" passamos ao perfil mais matizado do jovem que "foge em mentiras repetidas" de uma situação familiar e sentimental considerada "traumatizante" pela psicóloga.
Sua afeição por ele leva-a inclusive a ir ao encontro dos pais e de Lachenay para acelerar sua libertação. Em março de 1949, ela entra em contato também com André Bazin, solicitando sua intervenção em favor do rapaz. O crítico, que mal o conhecia, encontra-se com a srta. Rikkers na casa desta, na rue du Pot-de-Fer. Ele não só se oferece como responsável por François como consegue para ele um emprego na associação Trabalho e Cultura. A psicóloga compromete-se a acompanhar o rapaz, uma vez libertado. Diante dessas garantias, o juiz determina, três meses antes do prazo, a internação de François Truffaut numa instituição religiosa de Versalhes. A 18 de março de 1949, o jovem de 17 anos está em semiliberdade.


Tradução de Clovis Marques.


A OBRA
O livro "François Truffaut - Biografia", de Serge Toubiana e Antoine de Baecque (588 págs., 48 págs. de fotos, preço não definido), será lançado na primeira semana de abril. O crítico Serge Toubiana chega ao Brasil em 7 de abril.



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