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Biblioteca básica
Os Ensaios
EVANDO NASCIMENTO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Releio sempre os "Os Ensaios" de Montaigne na
edição da Pléiade, seduzido pelas reflexões e aporias que ali se desdobram, de modo quase fragmentário, mas com grande rigor estrutural.
Essa concepção multifacetada antecipa invenções dos
séculos 20 e 21. Trata-se de um legítimo hipertexto, que
exige interatividade do leitor: o diálogo silencioso e criativo com um texto de textos, uma tessitura infinita a partir
sobretudo de autores latinos, como Sêneca e Cícero. Por
essa e outras razões, jamais diria que "Os Ensaios" são
um "clássico", se o termo significa uma obra congelada
no passado, com uma aura intocável. Diria, antes, que se
trata de um "contemporâneo".
Recorrendo ao que hoje se chamaria de "autoficção",
por meio da "pintura de si", "Os Ensaios" não se prendem a classificações. Misto de filosofia, poesia, discurso
político, histórico e existencial, na verdade inventaram
seu próprio gênero, que floresceu com múltiplas configurações nos séculos posteriores.
A amizade com La Boétie é um momento de sua densa
subjetivação, anunciando as formulações atuais de sujeito descentrado. Interessa-me a grande liberdade de pensamento e a força do estilo, mesmo quando por vezes discordo do que é dito.
Evando Nascimento é professor de literatura na Universidade Federal
de Juiz de Fora, pesquisador e ensaísta.
A obra
"Os Ensaios", de Montaigne. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. Vol. 1 - 489 págs., R$ 64,50; vol. 2 - 678 págs., R$ 69,50; vol. 3
-501 págs., R$ 64,50. Ed. Martins Fontes (tel. 0/xx/11/3241-3677).
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