São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005

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Biblioteca básica

Os Ensaios

EVANDO NASCIMENTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Releio sempre os "Os Ensaios" de Montaigne na edição da Pléiade, seduzido pelas reflexões e aporias que ali se desdobram, de modo quase fragmentário, mas com grande rigor estrutural.
Essa concepção multifacetada antecipa invenções dos séculos 20 e 21. Trata-se de um legítimo hipertexto, que exige interatividade do leitor: o diálogo silencioso e criativo com um texto de textos, uma tessitura infinita a partir sobretudo de autores latinos, como Sêneca e Cícero. Por essa e outras razões, jamais diria que "Os Ensaios" são um "clássico", se o termo significa uma obra congelada no passado, com uma aura intocável. Diria, antes, que se trata de um "contemporâneo".
Recorrendo ao que hoje se chamaria de "autoficção", por meio da "pintura de si", "Os Ensaios" não se prendem a classificações. Misto de filosofia, poesia, discurso político, histórico e existencial, na verdade inventaram seu próprio gênero, que floresceu com múltiplas configurações nos séculos posteriores.
A amizade com La Boétie é um momento de sua densa subjetivação, anunciando as formulações atuais de sujeito descentrado. Interessa-me a grande liberdade de pensamento e a força do estilo, mesmo quando por vezes discordo do que é dito.


Evando Nascimento é professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, pesquisador e ensaísta.

A obra
"Os Ensaios", de Montaigne. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. Vol. 1 - 489 págs., R$ 64,50; vol. 2 - 678 págs., R$ 69,50; vol. 3 -501 págs., R$ 64,50. Ed. Martins Fontes (tel. 0/xx/11/3241-3677).


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