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"Não existe no mundo terra mais fértil e rica que a província de Cambraia"
RUMO À ÍNDIA
Dos mares Vermelho e Persa e da ilha de Anchediva
Na passagem ao longo da costa
de Melinde, deparamos uma rica
e bonita cidade moura, de nome
Mogadiscio. Mais além, vimos
uma grande ilha, onde havia outra belíssima urbe, cercada por
muros. Essa ilha, denominada Socotorá, conta com um porto. Andando um pouco mais, demos
com a embocadura do estreito de
Meca, que não tem mais do que
uma légua e meia de largura. No
seu interior, está o mar Vermelho,
a Casa de Meca e de Santa Catarina do monte Sinai. Daí saem, para
o Cairo e para a Alexandria, especiarias e pedras preciosas, que são
transportadas, pelo deserto, no
lombo de dromedários -um tipo especial de camelo. Acerca
desse mar há grandes coisas para
se contar. Passando a embocadura, do outro lado, está o mar da
Pérsia, no qual existem grandes
províncias e muitos reinos, todos
pertencentes ao grande sultão da
Babilônia. No meio desse mar há
uma pequena ilha, de nome Julfar, onde são encontradas muitas
pérolas. Na boca do dito mar, há
uma grande ilha, de nome Ormuz, onde mora o rei que é senhor de Julfar. Em Ormuz, criam-se cavalos, que são posteriormente vendidos na Índia a elevados
preços. Em toda essa região, o tráfego de naus é intenso.
Passando o mar da Pérsia, está a
província de Cambaia, governada
por um rei grande e poderoso.
Não existe no mundo terra mais
fértil e rica. Nela há trigo e outros
grãos, arroz, cera e açúcar. Produzem-se lá todo o incenso do mundo e muitos tecidos de seda e algodão. Há ainda, no lugar, grande
quantidade de cavalos e elefantes.
O rei local era um idólatra, porém,
não faz muito tempo, um mouro
foi coroado, pois os mouros têm
muito poder nesse reino. Entre os
habitantes, no entanto, há ainda
muitos idólatras, que são grandes
mercadores e negociam ora com a
Arábia ora com a Índia, que começa nesse ponto. Eles costumam
percorrer essa costa, a qual conta
com muitos reinos e províncias
de idólatras e de mouros, até darem no reino de Calicute. Todavia, tudo isso que relato neste capítulo não foi visto por nós.
Alcançamos a Índia no dia 22 de
agosto, próximo à terra do reino
de Goga. Fizemos um primeiro
reconhecimento e avançamos para uma pequena ilha de nome Anchediva, propriedade de um
mouro. No meio dessa ilha, ilha
distante duas milhas da terra e
quase desabitada -dizem que
outrora o lugar foi habitado por
gentios-, há um grande lago de
água doce. Isso faz dela um ponto
de passagem para os mouros de
Meca que se dirigem para Calicute, pois aí eles podem suprir as
suas necessidades de água e lenha.
Ficamos 15 dias nesse lugar, recolhendo água e lenha, bem como
aguardando para ver se conseguíamos capturar alguma nau
vinda de Meca. Os poucos habitantes do local vieram conversar
conosco e nos contaram muitas
coisas. O capitão deu ordens para
que lhes prestássemos grandes
honras. Há nessa ilha uma pequena ermida, na qual, durante os
dias em que lá estivemos, foram
rezadas várias missas pelos religiosos que estavam com o feitor
de Calicute. Pudemos, assim, confessar e comungar. Depois de recolhermos a água e a lenha necessária e constatarmos que as tais
naus de Meca não iriam aparecer,
fizemos vela para Calicute, distante 70 léguas.
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