São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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Teatro desagradável

Expressão criada por Nelson Rodrigues para designar algumas de suas peças. Em 1949, cansado das acusações feitas por alguns críticos, que o recriminavam por ter abandonado o caminho que o levara ao grande sucesso de "Vestido de Noiva", em 1943, o dramaturgo escreveu um artigo intitulado exatamente "Teatro Desagradável" para se explicar e se defender.
Provocador, reiterava seu interesse pelos temas mórbidos, imorais e monstruosos, dizendo que suas peças recentes, "Álbum de Família", "Anjo Negro" e "Senhora dos Afogados", eram "obras pestilentas, fétidas, capazes, por si sós, de produzir o tifo e a malária na platéia".
Nelson queria que, pelo acúmulo e abundância de elementos agressivos e mórbidos, tais como incestos, infanticídios, parricídios, crimes em geral, violações, mutilações, prostituição, homossexualismo, sexualidade desenfreada, taras as mais diversas, o espectador fosse agredido e obrigado a repensar o lado apodrecido de sua personalidade e, por extensão, da sociedade aparentemente organizada em que vivia. [...]
Nelson, da mesma forma que Artaud, que provavelmente não conhecia, formulou um conceito de teatro como uma forma pestífera, cuja função seria drenar a imensa purulência moral de uma sociedade que identifica a libido com o sujo e o infamante, quando deveria vê-la como algo natural e vigoroso.


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