São Paulo, domingo, 30 de julho de 2000


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Y ASI PASAN LOS DIAS

MILLÔR

DA JUSTIÇA A QUEM SE RECORRE?

1 INCERTIDUMBRE
O FhC (superlativo de PhD) vai e volta tantas vezes, e torna definitivas tantasmedidas provisórias, que eu já nem tenho coragem de afirmar que faltam 153 diaspro fim do ano.

2 BASTA!
No Brasil uma pessoa já é considerada honesta apenas porque é medíocre em sua desonestidade.

3 CERTIDUMBRE
Não sei se as coisas se oferecem aos humoristas, ou aos humoristas cabe, visceralmente ou pordeformação profissional, perceberem o óbvio tradicionalmente ululante. No caso da prefeitura de São Paulo era evidente que tudo ia terminar em Pitztza.
Só na CASA DA FEIJOADA, na praça à minha porta, os donos afirmam, surprendente e honestamente,num belo slogan: "AQUI NADA ACABA EM PIZZA"”

4 REFINAMENTO
Está nos jornais que o cientista Shiguero Watanabe - adivinhem de que pais - fazexperiências extraordinárias com pombos. Numa delas mostra aos pombos, alternadamente, cinco quadros de Monet e cinco de Picasso. Quando o quadro é de Picasso o pombo recebe um milho. Quando de Monet o pombo leva um choque nos pés. Depois de ver os quadros 200 vezes qualquer pombo distingue, sem erro, um Picasso de um Monet. Quer dizer, com um saco de milho e um fio elétrico dá-se a um pombo japonês mais critério estético do que possuem 93,7% dos críticos brasileiros.

5 RESPONDA DEPRESSA
O que envelhece primeiro: o corpo ou a alma?

6 ETIMOLOGIA
Encontrando pela frente uma verdadeira anta, que não compreende nada do que você diz e reage mal a tudo, pelo menos você aprende a origem da palavra antagonismo.

7 DIÁRIO
Me levanto da mesa do canto do nosso point atual (GIBO, praça Gosório, Rio), de onde, durante maisde uma hora trocamos gracejos costumeiros e infantis com a mesa distante cinco metros, do Oscar (osmenos respeitosos chamam de Niemeyer), que também faz ponto no mesmo point e, como diria um colunista social; “Sempre bem acompanhado.” Nos últimos poucos anos por V..., encantadoracompanheira aí por volta (não mais do que duas ou três voltas) dos quarenta.
Despedidas, eu já em pé, mais gracejos, Oscar me diz que tinha vindo da montagem de sua exposição,a ser inaugurada Domingo, no recanto do Leme. É sexta feira. Uma hora da manhã. Esplêndida horapara irmos, eu e uma amiga, dar uma olhada no, perdão, evento. No frio intenso da madrugada no Rio, quem diria? estava lá!
Alguns monstros geométricos pesando algumas centenas de quilos, (sobre elas delicadas figurasaramadas) redesenhando a última praia da zona sul livre de trânsito de auto estrada. Foi o exército, por causa do forte junto, quem impediu a praia de ser destruída por mais um (maldito) túnel. Sejamos justos,a “revolução” também teve seus méritos.
São figuras perfeitas pra paisagem em que estão. Mas, privilegiados, vimos melhor. Uma exposição que ninguém, nem o Oscar, nem os trabalhadores, por estarem perto demais, viram ou verão. As grandes figuras, expostas contra a areia branca e o pretor da noite, soltando jatos de sangue para o ar. É que os operários ainda repintavam as peças com um borrifador enorme. E seu pequenos vultos sobre escadas abertas compunham um painel esteticamente insuperável. E vivo. Obra em progresso.
Um grande artista faz o que faz e faz o que não faz.
Não é raro acusar-se Niemeyer de ser mais escultor do que arquiteto. Ele que se livre agora dessa acusação. Quem mandou?



Site do Millôr: www.uol.com.br/millor



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