São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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ARIEL DORFMAN
Lembranças de um auto-engano

Divulgação
Os atores Ben Kingsley e Sigourney Weaver em cena do filme "A Morte e a Donzela", dirigido por Roman Polanski e baseado em peça de Ariel Dorfman



O escritor chileno Ariel Dorfman, que lança nesta semana suas memórias no Brasil, faz uma revisão das lutas sociais na América Latina na segunda metade do século


MAURÍCIO SANTANA DIAS
da Redação

Aos 3 anos ele teve que emigrar com a família, de Buenos Aires para Nova York, porque seu pai havia entrado em choque político com Juan Perón -que viria a ser duas vezes presidente argentino. Aos 12 anos, precisou deixar os Estados Unidos e se fixar no Chile, porque seu pai, um diplomata comunista de origem russa, estava sendo perseguido pelo senador Joseph McCarthy. Aos 31, exilou-se nos EUA depois que as forças do general Pinochet puseram abaixo o governo democrático do socialista Salvador Allende, assassinado pelos militares dentro do palácio presidencial de La Moneda.
O personagem em questão é o escritor Ariel Dorfman, 56, cujo primeiro nome é na verdade Wladimiro -uma homenagem paterna a Wladimir Lênin- e que na adolescência gostava de ser chamado de Edward. Dorfman estará nesta semana no Brasil para o lançamento do seu último livro, a autobiografia "Uma Vida em Trânsito" (Ed. Objetiva).
Suas obras mais conhecidas são "A Morte e a Donzela", que deu origem ao filme homônimo dirigido por Roman Polanski e estrelado por Sigourney Weaver e Ben Kingsley -no Brasil, houve uma montagem teatral, dirigida por Hector Babenco, na qual atuaram Xuxa Lopes e Tony Ramos-, e "Para Ler o Pato Donald", uma crítica polêmica à indústria cultural norte-americana que fez muito sucesso na década de 70.
Escritor de sucesso nos EUA, onde vive, Dorfman é também professor de literatura e estudos latino-americanos na Universidade Duke (Carolina do Norte). Seu mais recente romance, "Konfidenz", sairá no Brasil em janeiro.
De sua casa, Dorfman falou, por telefone, à Folha sobre política, literatura, cinema, contracultura, globalização e, é claro, sobre a sua experiência pessoal, que atravessa todos esses temas e é marcada por dualismos extremos.

Folha - "Uma Vida em Trânsito" é uma mistura de autobiografia e de comentário sobre a história. Como surgiu a idéia de escrevê-lo?
Ariel Dorfman -
Na verdade, quando eu disse a minha mulher, Angélica, que eu ia escrever uma memória, uma meditação sobre minha vida, ela me falou que eu devia estar louco -e creio que ela estava certa. Senti que havia encerrado uma etapa, um ciclo que basicamente terminou quando decidi não mais voltar a meu país (Chile) de forma definitiva. Sempre me apresentei como Ariel, o chileno, que queria voltar ao Chile e escrever em castelhano, e de repente me dei conta de que isto não estava certo, de que a história mais uma vez tinha escolhido um outro destino para mim. Quis então me perguntar, de maneira extremamente pessoal, como cheguei a ser tão diferente daquilo que planejei como uma existência.
Outro impulso foi a necessidade de resgatar uma experiência histórica que foi válida para muitos, e não só para mim. As pessoas que costumam escrever esse tipo de livro geralmente ocultam a verdade, não dizem tudo. Penso que será muito difícil passar a uma nova etapa de lutas sociais na América Latina sem nos olharmos com muita clareza à luz pública.
O terceiro impulso foi, talvez estranhamente, Sarajevo. Para mim Sarajevo colocou, como a Espanha e o Chile haviam colocado antes, um dos dilemas fundamentais do século 21, ou seja: nos tornaremos tolerantes e multiculturais ou fundamentalistas e beligerantes? Percebi que o temor que havia naqueles que tentavam destruir Sarajevo era o mesmo que eu tinha de ser bilíngue e híbrido.
Folha - Sua militância política começou no início dos anos 60, com os movimentos estudantis na Universidade do Chile. Gostaria que comentasse sua entrada na vida política, suas motivações, sua posição dentro das tendências de esquerda.
Dorfman -
Naquela época eu tinha um problema pessoal que me dificultava militar, que era o fato de estar confundido sobre minha identidade. Queria voltar aos EUA porque escrevia em inglês. Portanto era muito difícil dar o passo para a militância, até porque as forças de esquerda também estavam divididas em dois grupos fundamentais, os comunistas e os socialistas. Eu admirava os comunistas por sua dedicação e por sua base operária, mas sentia grandes resistências aos dogmatismos e ao stalinismo. Por outro lado, o partido socialista era tão desordenado -com social-democratas, trotskistas, todo mundo- que me parecia impossível militar dentro dele.
Senti-me então atraído por um grupo que se chamava Mapu (Movimento de Ação Popular Unitária), palavra que também significava "terra" ("mapuche") -um romantismo típico da pequena burguesia intelectual, de que eu fazia parte. O Mapu era um partido marxista, mas que incorporava elementos da nova esquerda democrática.
Folha - Como foi sua participação na campanha que levou o socialista Salvador Allende ao poder em 1970. Qual a sua atuação no governo allendista?
Dorfman -
Acho que poderia sintetizar a resposta com um caso que me aconteceu. Uma vez, já no período de Allende, saímos para fazer pichação nos muros, onde dizíamos coisas como "Mapu = Terra + Alegria", "Expropriar a Grande Burguesia" e "Aumentar a Produção". Era um grupo grande de amigos, entre eles o meu colega Antonio Skármeta (autor de "O Carteiro e o Poeta"). Saímos de madrugada e pintamos de vermelho um enorme muro branco com essas inscrições, o que nos deixou muito orgulhosos. No outro dia recebemos uma advertência do partido dizendo que aquela parede era de uma propriedade privada e que não tínhamos o direito de violar a propriedade privada. Resultado: fomos obrigados a voltar na madrugada seguinte e limpar o que tínhamos feito.
Isso me deixou uma impressão de absurdo, uma sensação dolorida, mas também irônica. É penoso que as coisas não tenham saído como desejávamos, que continue existindo tanta miséria e tanta necessidade. Mas também é preciso perceber como nos auto-enganamos -e meu livro trata desse auto-engano. Por isso ele também é cômico em alguns momentos. Come dizem as teorias da comédia, não há nada mais engraçado do que alguém que pensa ser diferente do que é.
Folha - Como o sr. via a experiência cubana nos anos 60, um marco para toda pessoa de esquerda que viveu aquela época, e como a vê hoje?
Dorfman -
A Revolução Cubana para nós, naquela época, era precisamente o paraíso; os cubanos não poderiam ter feito nada melhor. Foi um pouco o que a Revolução Russa representou para a geração do meu pai. Ao fazer a primeira revolução triunfante, socialista, na América Latina, Cuba nos transmitiu uma sensação de exemplaridade e heroísmo, o que foi muito importante para a minha geração. Achávamos que seria possível repetir a mesma experiência no resto da América Latina -como se os Estados Unidos não tivessem também aprendido com ela. De fato, não foi possível fazer uma segunda revolução como aquela. Contudo justifiquei muitas coisas que hoje não justificaria.


"Todos hoje somos mais globais do que pensamos"


Folha - O uso da violência, por exemplo?
Dorfman -
De modo geral, defendo o princípio da não-violência até onde seja possível. Por exemplo, apoiei os sandinistas, a guerrilha salvadorenha e Nelson Mandela. Não nego que em determinadas circunstância se deva usar a violência. Tenho a impressão, no entanto, de que é preferível usar a mobilização que se tem de forma não-violenta, porque os resultados obtidos pela força são muito complicados. Aqueles que ganham a guerra nem sempre sabem ganhar a paz, porque se criam condições militares e antidemocráticas no momento do confronto -e nesse instante não poderia ser diferente- que se perpetuam mais adiante, com a idéia de hierarquia e disciplina.
Em todo caso, devo dizer que, como militante dos direitos humanos, tenho reservas em relação a Cuba, onde há presos políticos e faltam eleições democráticas. Por outro lado, a maior violência que há no caso cubano é a violência exercida pelos EUA sobre aquele país, porque o bloqueio que lhe estão impondo -arrasando a sua economia, destruindo seu presidente e arruinando sua agricultura- evidentemente não ajuda para que haja um processo de democratização em Cuba. É necessário sublinhar isso, se não fica fácil criticar o regime cubano e ocultar suas qualidades; por exemplo, acho o seu sistema educacional e de saúde admirável, além de Cuba ser um ponto de referência para a cultura latino-americano, com o seu teatro, o prêmio Casa das Américas etc.
Folha - O que o sr. pensa das democracias latino-americanas de hoje, em particular a chilena? Como avalia seus resultados?
Dorfman -
Primeiro, devemos nos alegrar por não estarmos vivendo sob ditaduras, que foram particularmente repressivas na América Latina. Segundo, é necessário reconhecer que essas liberdades significam muito pouco para grande parte da população, principalmente os campesinos, os jovens e aqueles que estão à margem dos processos de globalização da economia. Creio que há uma tendência à integração demasiado rápida -e às vezes desavergonhada- dos sistemas econômicos mundiais. Não digo com isso que os Estados nacionais irão solucionar os problemas atuais, mas acho que uma democratização econômica deve ser acompanhada por uma democratização social, caso contrário as democracias políticas correrão perigo.
Quanto ao Chile, houve uma diminuição considerável da miséria, mas ao mesmo tempo o abismo entre pobres e ricos cresceu enormemente. Isto me preocupa bastante: junto com a democratização houve uma aceleração do consumismo e um decréscimo de solidariedade. Penso que os frutos da globalização não estão sendo repartidos da maneira que deveriam, o que indica um insuficiente controle sobre este fenômeno. Todavia não me coloco contra o processo de globalização, que também trouxe imensos benefícios; de resto, todos hoje somos mais globais do que pensamos.
Folha - Em 1968 o sr. estava fazendo pós-graduação na Universidade Berkeley, que foi um dos centros das rebeliões estudantis, dos hippies e da contracultura. Passados 30 anos, como o sr. avalia o movimento de 68?
Dorfman -
Eu celebro e defendo, tal como defendi as justiças sociais na época de Allende, o que aconteceu nos EUA e em muitas partes do mundo em 1968. Não sou desses que dizem "oh, que terrível o que fizemos", "oh, que terrível, fumamos maconha", "oh, que terrível, fizemos amor com tantas pessoas". O que se deu nos EUA de então foi um rechaço a formas convencionais de entender e organizar a vida. Acho ainda que esse impulso deveria nos guiar, sobretudo nos EUA. Em toda parte se vêem as influências benéficas da liberação que aconteceu nos anos 60.
Por outro lado, reconheço que foi um movimento extraordinariamente imaturo. Quando cheguei à Califórnia e vi aqueles jovens hippies descalços, tive uma sensação de superioridade sobre eles, porque eu vinha de um país onde não ter sapatos era uma consequência da miséria, enquanto eles estavam brincando de ser miseráveis.
Folha - O sr. diz no livro que a literatura está ligada à construção de "mundos alternativos". Gostaria que comentasse esta idéia.
Dorfman -
Sempre pensei que a literatura nos faz recordar de nós mesmos, da relação que deveríamos ter uns com os outros. Nesse sentido, a literatura nos garante uma reserva de liberdade -e é preciso que esta liberdade exista.
Folha - Quais os bons escritores de hoje?
Dorfman -
Para não criar nenhum problema para mim, não vou mencionar os latino-americanos, porque gosto de todos -vou ser bem demagógico (risos). Ultimamente tenho lido alguns que me têm interessado bastante, em especial aqueles autores que cruzam e rompem as fronteiras das culturas. Vou dar alguns exemplos. Gosto muito de Michael Ondaatje, autor de "O Paciente Inglês", e de John Berger, que é um dos grandes escritores contemporâneos -um inglês que vive na França e que, além de romancista, é muito conhecido como crítico de arte.
Há um outro escritor maravilhoso, um libanês-francês, Amin Maalouf, e há também Saramago -para falar de um autor de sua língua. Dos que li mais recentemente, destacaria o último romance de Don DeLillo, "Underworld". Devido ao meu bilinguismo, passo muito tempo lendo obras em inglês em que eu possa encontrar uma abertura para outros idiomas e culturas -como a que eu mesmo fiz.
Folha - Como foi trabalhar com o cineasta Roman Polanski em "A Morte e a Donzela"?
Dorfman -
Foi uma experiência muito boa. Quando meu livro estava para ser filmado, acertei com o produtor que eu teria o direito de escolher quem iria dirigi-lo. Entre os cinco ou seis diretores que queriam fazê-lo, escolhi Polanski, porque, além de ser um cineasta genial, eu não precisava dizer-lhe nada sobre como os personagens deveriam atuar. Ele tinha, como polonês -mas também como um indivíduo que havia conhecido o nazismo, as ditaduras comunistas e a perseguição americana-, uma experiência de vida que, a despeito de sermos muito diferentes (temos temperamentos completamente distintos), lhe permitia entender a tragédia, a ambiguidade, a repressão e as consequências da violência. Isto significa que eu não precisava explicar nada a Roman, e eu busquei justamente um diretor a quem não fosse necessário educar para exprimir essas coisas. Foi uma experiência ótima, pois estávamos afinados quanto às coisas básicas.
No entanto, devo dizer que o filme é diverso do livro, o filme é de Roman Polanski -e isto é inevitável quando se escreve para o cinema. Quando escrevi com meu filho Rodrigo um roteiro para a televisão, que foi ao ar no ano passado, com John Hurt, ganhamos um prêmio, mas em troca mudaram muito o nosso texto -por razões econômicas, comerciais etc. etc. Os mundos do cinema e da televisão são muito difíceis. Gosto bem mais de fazer literatura, porque ali controlamos a palavra.
Folha - Qual a sua opinião atual sobre a indústria norte-americana de entretenimento, o sr. que, nos anos 70, escreveu "Para Ler o Pato Donald", uma das críticas mais contundentes a ela?
Dorfman -
Há uma tendência que, a meu ver, é terrivelmente negativa: a homogeneização, em que as demandas do capital e da distribuição estrangulam a criatividade. Conheço as pessoas de Hollywood, gente que trabalha dentro deste modelo, e a verdade é que são muito talentosos. Se Shakespeare vivesse hoje, estaria escrevendo filmes e dirigindo-os. Mas a parte industrial, os efeitos especiais, o sistema do estrelato, o apelo à violência -que para mim é apenas uma violência de efeito-, a versão reconfortante da existência humana, no sentido de que Hollywood constantemente traz problemas reais e os resolve de forma irreal, tudo isso me incomoda. Sempre me dizem que sou demasiado ambivalente, demasiado obscuro, que eu poderia encontrar finais onde os protagonistas se saíssem bem -e olha que sou uma pessoa alegre, vibro quando os personagens se saem bem. O problema é que há uma linearidade total.
O filme "Tubarão", de Steven Spielberg, inaugurou um tipo de entretenimento popular que em Hollywood se chama "high concert". O "high concert" é uma forma de criação em que uma única frase deve sintetizar toda a obra, e esta frase é repetida sempre, em todos os lugares, integrando uma série de indústrias diferentes: da música, das roupas, dos objetos, dos alimentos. Há uma ocupação de todos os espaços; é quase uma forma de totalitarismo. Ou seja: em vez de se criarem meios que franqueiem uma maior circulação de produtos diferentes, o que ocorre é a repetição de um mesmo fenômeno. É quase impossível fazer um filme circular no mundo inteiro sem que ele tenha estrelas conhecidas, que por sua vez são muito caras. Então, é muito difícil romper esse círculo.
Folha - Nessa perspectiva, como ficam os produtos que não fazem parte desse circuito -o cinema latino-americano, por exemplo?
Dorfman -
No caso dos países latino-americanos, nada é possível se não houver uma ajuda muito consistente por parte das autoridades. Não há indústria cinematográfica sem esse tipo de ajuda. Estão sendo criados vários tipos de sistemas alternativos bem interessantes, como os videoclubes, e há movimentos sociais por todas parte. Se me perguntarem onde está a maior esperança em relação à globalização, diria que está no consumidor, que passa a ter uma grande força a partir do momento em que começa a se organizar. Não estou sugerindo que esta seja a solução para romper o círculo, mas há mostras de que existem espaços alternativos a serem ocupados. Sou bastante otimista sobre essas possibilidades.
Folha - "Para Ler o Pato Donald" é , segundo suas palavras, um exercício de canibalismo cultural -inclusive inspirado pela antropofagia dos modernistas brasileiros. O senhor continua se valendo da antropofagia para lidar com a cultura norte-americana?
Dorfman -
Sim, certamente. Vou dar dois exemplos. Um é "A Morte e a Donzela". Nela, tomo a estrutura do thriller norte-americano, um gênero tornado famoso pelos norte-americanos, e o subverto. Em vez de rechaçar o uso dessa forma internacional, o suspense, eu a utilizo, atraio o leitor para ela e depois não o deixo sair -ou o deixo sair muito perturbado.
O mesmo ocorre em outro livro meu que vai ser lançado no Brasil em janeiro, um romance chamado "Konfidenz". Nele, aproprio-me da novela de espionagem e também a subverto. É a história de uma mulher estrangeira que mora num apartamento em Paris e que um dia recebe a ligação de alguém cuja voz ela nunca escutara. Essa voz masculina começa a falar e a relatar tudo sobre a sua vida. Eles mantêm uma longa conversação, sem que saibamos em que época se passa essa história. Portanto utilizo as fórmulas do romance de espionagem para criar contextos diversos e falar de outras situações.
Finalmente, este livro de que estamos falando, o livro de memórias, é um outro exemplo de antropofagia. Atualmente há muitos livros de memória em que as pessoas contam as enormes intimidades de suas vidas privadas. É um fenômeno internacional, que acontece nos EUA, na França, na Inglaterra, em todos os lugares. Trata-se de um gênero de grande apelo popular, em que o êxito está na revelação de segredos, no aspecto confessional: o menino que sofreu abusos, o homem que teve problemas com sua mulher etc.
Eu, como antropófago que sou, tomei esse impulso e o converti no relato de uma vida que não se atém aos detalhes da intimidade -um pai que batia no filho, uma mãe que abandonou a família, alguém que de repente se descobriu homossexual, outro que cometia pequenos furtos-, mas que a ultrapassa na medida em que inclui uma reflexão sobre a história pública. Trata-se de utilizar-se desse gênero que pretende contar a verdade, mas ao mesmo tempo romper com a idéia de que deva ser meramente pessoal, transformando-o em algo que tenha uma amplitude histórica e social maior.
Folha - Lendo o seu livro, percebe-se que ele é diferente das autobiografias não apenas no que diz respeito ao conteúdo, mas também à estrutura, à forma. Como o sr. chegou até ela?
Dorfman -
De fato, a estrutura do livro é diferente porque não segue uma ordem cronológica linear. O que eu quis foi, utilizando de novo o suspense, criar a sensação da morte que me encalçava e perseguia. O leitor então se pergunta: "Se salvará ou não se salvará? Como se salvará?". Ou melhor: "Como é que esse menino, que partiu há tantos anos daquela maneira, terminou sendo esta pessoa que está narrando ou sendo perseguida pela morte 30 e tantos anos mais tarde?". No entanto, apesar da presença constante da morte no livro, creio que ele celebra muito a vida e, mesmo nos momentos mais críticos, jamais perde de vista a esperança. Quis dar, com essa estrutura dual, a estrutura de minha própria vida, que também é dual.



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