São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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ARISTOCRATA FEZ CARREIRA POLÍTICA

DA REDAÇÃO

A família de Alexis de Tocqueville (1805-1859) tinha raízes na aristocracia -seu pai era conde- e já adolescente ele sonhava em viajar à Inglaterra. Estudou a história comparada anglo-francesa e desde cedo preparou-se para a vida política.
A Revolução Francesa marcou sua família. Seus pais, assim como outros parentes, foram presos em 1793. Seu bisavô por parte de pai, um aristocrata liberal, foi morto na guilhotina. Tocqueville assistiu à restauração da monarquia com Luís 18 (1815) e, depois, com Carlos 10º, a quem seu pai serviu.
Os acontecimentos de 1830, com a deposição dos Bourbons do trono, influenciaram o autor. Os antigos laços de sua família com os Bourbons tornaram-se um problema. Foi nesse momento político desfavorável que ele e seu amigo Gustave Beaumont (com quem manteria uma relação intelectual e pessoal forte até o final da vida) pediram e receberam permissão para estudar as instituições penitenciárias americanas.
Os dois desembarcam nos EUA em 9 de maio de 1831 e iniciam uma viagem por 17 dos 24 Estados do país à época, além do território do Wisconsin, num percurso a pé, de carroça, a cavalo e de barco a vapor.
A viagem durou nove meses, terminando em 1832. Gerou o livro "Du Système Pénitentaire aux États-Unis et de Son Application en France" (Do Sistema Penitenciário nos EUA e sua Aplicação na França, de 1833), escrito em conjunto com Beaumont. No livro, ele vê o crime como a ruptura dramática do frágil consenso que deveria fundar as sociedades democráticas. A punição seria a forma de restabelecê-lo. Para Tocqueville, a sociedade francesa e latina, ao contrário, tendia a transformar o criminoso em "herói".
A pesquisa na verdade escondia intenções mais ambiciosas. Nas próprias palavras de Tocqueville, em carta a seu amigo Kergorlay, "o sistema penitenciário era um pretexto". O francês dizia que usou o estudo "como um passaporte que permite penetrar em todos os lugares dos Estados Unidos".
A partir das observações, leituras e discussões com autoridades e personalidades do país, Tocqueville publicou em 1835 a primeira parte de "A Democracia na América", um estudo sobre as instituições políticas do país. A obra foi considerada "o livro do ano" na França e o tornou famoso. O dinheiro e os prêmios que gerou permitiram que reformasse seu castelo na Normandia.
Em 1836, casou-se com a inglesa Mary Mottely. Em 1837, concorreu sem sucesso à Assembléia Nacional. Mas foi eleito em 1839, mantendo uma carreira legislativa estável desde então. Em 1840, lançou o segundo volume de "A Democracia na América", descrevendo a democracia norte-americana não apenas como um regime político, mas como um estado social caracterizado por costumes, um estilo de pensamento, hábitos e uma forma das pessoas se relacionarem consigo e com os outros, que ele chamou de "individualismo". Este segundo volume já não teve a mesma acolhida do primeiro, apesar dos elogios de economistas e filósofos como John Stuart Mill (1806-1873).
A partir da Revolução de 1848, aumentou sua influência política e foi eleito como um conservador republicano para a Assembléia Constituinte que se instalava. Entre junho e outubro de 1849 foi ministro das Relações Exteriores. Na curta passagem pelo cargo, procurou evitar a intervenção francesa fora do país e manter o equilíbrio de poder na Europa.
Em 1850, quando já começa a sofrer de tuberculose, começou a redigir "O Antigo Regime e a Revolução", que publicaria em 1856. Escreveria ainda "Lembranças de 1848", publicado postumamente em 1893. Em 2 de dezembro de 1851, se opôs a um golpe de Estado e perdeu os direitos políticos. Encerrou sua vida política nesse ano. Morreu em 1859, em Cannes.


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