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Coreana Hyundai turbina Piracicaba

Polo automotivo leva cidade a decisão inédita, de orientar novos investidores a procurar outras cidades da região

Município avalia que impacto econômico da montadora levará pelo menos dez anos para ser assimilado

AGNALDO BRITO
enviado especial a piracicaba

Deok Soo Kim tem 29 anos. Simpático, tenta ensinar ao repórter a pronúncia correta, em coreano, de "obrigado". Em vão. Kim é um dos 700 expatriados coreanos que transitam ligeiros e quietos pelos mais de 70 mil metros quadrados do mais novo polo automotivo do Brasil.

Instalado em Piracicaba, município distante 160 quilômetros a noroeste de São Paulo, a fábrica da coreana Hyundai está mudando o status industrial da velha cidade canavieira.

Mudou tanto que o município decidiu adotar uma posição, no mínimo, curiosa: Piracicaba está recusando novas indústrias e orientando-as a buscar abrigo nas cidades vizinhas.

"Se a indústria quiser vir para Piracicaba, tudo bem. Mas agora não tem benefício, não tem terreno. Só com a Hyundai vamos precisar de dez anos para assimilar tudo o que veio para cá", diz José Antônio de Godoy, secretário de governo de Piracicaba.

Com investimento de US$ 600 milhões, a Hyundai corre para começar a testar a fábrica em abril de 2012 e inaugurá-la em novembro do próximo ano. Pelas esteiras e elevadores passará um veículo compacto inédito em qualquer uma das seis fábricas da montadora no mundo: o Projeto HB (Hyundai Brasil).

O plano é produzir em Piracicaba 150 mil veículos por ano. Para isso, a montadora vai contratar 2.000 funcionários. A marca já atraiu nove autopeças para o parque automotivo. Mais fornecedoras brasileiras do novo carro da Hyundai estão habilitadas para o projeto HB.

Toda a estrutura está sendo erguida numa área de 1,84 milhão de metros quadrados, onde antes brotava cana-de-açúcar.

EFEITOS

Resultado do plano Investe São Paulo, criado pelo governo estadual, o projeto da Hyundai dará novo impulso à cidade de Piracicaba. A desapropriação da área rural para a instalação do parque automotivo custou R$ 5,5 milhões. A cidade calcula que vai recuperar cada centavo.

A meta de produzir 150 mil veículos por ano resultará no aumento da participação da cidade no bolo do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Piracicaba estima que só a Hyundai vai incrementar as receitas desse imposto em mais de R$ 30 milhões por ano. Hoje, a cidade arrecada R$ 350 milhões. "O valor deve ser maior, mas não temos como estimar os efeitos das fornecedoras", diz Godoy.

Os efeitos econômicos já começaram. A cidade vai ganhar novo shopping. Quinze novos condomínios já foram lançados.

"São investimentos que não possuem o benefício fiscal do setor automotivo e que, portanto, já geram efeitos nas receitas da cidade."

A formação técnica também avançou. Instituições dos governos federal e estadual e da indústria (o Senai) ampliaram a oferta de cursos de 1.200 para mais de 2.500 vagas por ano.

Todos correm. O brasileiro Jairo Pierin, 33, e o amigo coreano Kim vão ajustando os robôs enfileirados na seção de montagem dos chassis. E ambos sabem que estão próximos de um recorde: erguer uma fábrica de automóvel em um ano e nove meses.

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