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Nem se renda dobrar dívida vira prioridade

Casa própria e poupança estão no topo dos desejos dos consumidores caso tivessem ganho maior, revela estudo

Quitar débitos tem mais importância na lista de interesses das classes D/E; para demais, fica do 4º lugar para trás

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

O que você faria se sua renda familiar dobrasse? Um estudo feito pela Plano CDE, e obtido com exclusividade pela Folha, mostra que o pagamento das dívidas está entre os últimos objetivos das famílias de classes A, B e C.

Na lista de desejos oferecida pela consultoria a 1.615 consumidores de todas as classes sociais do Recife (PE) e de São Paulo (SP), considerados centros representativos do Nordeste e do Sudeste, havia opções como comprar ou renovar a casa, poupar ou investir, pagar dívidas e abrir um negócio.

Cada entrevistado escolheu, em média, quatro itens.

Na classe C- (com renda familiar entre R$ 1.273 e R$ 2.000 por mês), o pagamento de dívidas aparece como último objetivo, atrás da compra do segundo imóvel (em terceiro lugar, empatado com carro), viagem, escola privada, educação própria (qualificação do entrevistado) e negócio próprio.

Na classe C+ (renda familiar mensal entre R$ 2.001 e R$ 3.180), o desejo de quitar dívidas surge em quarto lugar, empatado com viagem.

Nas classes A e B (mais de R$ 3.180 por mês), ocupa a sexta posição -ao lado de educação própria.

Já nas classes D e E (até R$ 1.272 mensais), pagar os débitos salta para o terceiro lugar, logo depois dos desejos de compra ou reforma da casa e de poupança ou investimento.

CREDIÁRIOS

"Essa população tem maior dificuldade em acessar o sistema financeiro e acaba se utilizando mais de opções como crediários", diz Luciana Aguiar, diretora-executiva da Plano CDE. "Manter as dívidas em ordem é a garantia de manutenção desse crédito."

A casa própria é o principal desejo dos entrevistados, independentemente da faixa de renda -embora esse item tenha sido mais mencionado (com 48% das repostas) pelas classes D e E.

Nas classes A e B, o segundo imóvel aparece na segunda posição -ocupada pela intenção de poupar ou investir, nas demais faixas de renda.

"O fato de o desejo de poupança aparecer em segundo ou terceiro lugar, conforme a classe social, não significa necessariamente planejamento financeiro, uma vez que o pagamento de dívidas, em geral, está distante entre as prioridades", diz Aguiar.

JUROS

É importante lembrar que os juros cobrados em uma dívida dificilmente vão ser compensados pelos pagos em uma aplicação financeira.

Viagem e carro também ocupam lugar de destaque na lista de prioridades das classes A, B e C, à frente de itens como escola privada.

"Entre as pessoas com maior renda, a educação em colégios privados já é realidade na maioria dos casos, o que pode explicar o fato de esse item não aparecer entre os primeiros da lista de desejos desses consumidores."

"Para aqueles com poder aquisitivo menor, a renda familiar dobrar não significa que vai ser possível sustentar o custo de uma escola privada", ressalta Maurício Morgado, coordenador do master de varejo da FGV-SP.

MOBILIDADE SOCIAL

Ainda de acordo com os pesquisadores, a lista de interesses dos entrevistados traduz as diferenças entre as lógicas de consumo das classes sociais.

Os grupos D e E ainda precisam suprir necessidades básicas. A classe C quer ampliar os itens consumidos e mostrar suas conquistas. As classes A e B estão em busca de realização pessoal.

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