Livro traz crônicas de 'imortal' da publicidade

São notórios e muitos os escritores que tiraram do jornalismo o seu sustento, como Euclides da Cunha, Nelson Rodrigues e Carlos Drummond de Andrade.

Mas a publicidade, que nas suas origens abusava de versos, também serviu de ganha-pão para muito escritor. Olavo Bilac, Manuel Bandeira e Fernando Pessoa usaram suas penas para vender fósforo Brilhante, pastilhas Purgativas e automóveis Chevrolet.

O imortal Orígenes Lessa, autor de "O Feijão e o Sonho", engrossa o segundo time, tendo trabalhado durante anos como redator-chefe da JWT.

"A Propaganda e o Sonho" (Singular/Ediouro) resgata esse lado B. É uma coletânea de crônicas dele publicadas na revista PN (Publicidade & Negócios), entre 1957 e 1960, além de outros escritos que têm na propaganda o principal personagem.

Lessa trabalhou com publicidade até acumular o suficiente para viver de escritor e não escondia que era esse o seu objetivo. Mas estava longe de ser um romântico perdido nas agências. Era produtivo e pragmático.

"Anúncio é feito não para ser bonito, nem bem escrito... É para produzir resultados."

Com um olhar aguçado sobre a "industrialização apressada" do Brasil de Juscelino Kubitschek, Lessa atacava empresas que vendiam produtos de baixa qualidade e dizia que era necessário desenvolver o espírito crítico dos "compradores".

Erudito e surpreendentemente atual, ele trata a publicidade em seu sentido amplo, como instrumento de comunicação de massa.

As mazelas do Rio às vésperas de perder o posto de capital nacional, por exemplo, são o mote para uma saborosa crônica sobre a honestidade na propaganda.

Dizia que o Rio deveria fomentar o turismo com uma comunicação sincera e focada no turismo de aventura.

"Viva perigosamente nas ruas de uma cidade inesquecível... Tiros a esmo... Atropelamentos... Desabamentos de prédios... Tudo ao seu alcance..."

A PROPAGANDA E O SONHO

AUTOR João A. Carrascoza (org.)

EDITORA Singular/Ediouro

ONDE Instituto Cultural (0/XX/11/5085-4500)

AVALIAÇÃO Bom