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Commodities

Uso do gás como matéria-prima na indústria empacou

Três anos depois de criada lei específica, governo ainda debate como usar o gás natural na cadeia industrial

Medida reduziria deficit de US$ 26 bi do setor, além de atrair pacote de US$ 10 bi em novos investimentos ao país

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

Insumo capaz de dar novo impulso à deficitária indústria petroquímica, o gás natural teve seu uso como matéria-prima empacado.

Em 2011, o conjunto do setor químico brasileiro gerou um deficit comercial de US$ 26 bilhões. Neste ano, a previsão é que o deficit alcance US$ 30 bilhões.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o uso do gás natural como matéria-prima poderia, em pouco tempo, reduzir em US$ 5 bilhões o deficit do setor.

Além disso, a indústria poderia pôr em marcha um novo ciclo de investimento, hoje parado. Atualmente, o Brasil tem US$ 10 bilhões em projetos engavetados para o uso do gás como matéria-prima.

O gás no Brasil é basicamente um insumo usado como combustível para produzir calor. Por ora, menos de 4% do gás natural disponível no país é usado como matéria-prima. Boa parte dessa fatia é de consumo da Petrobras, nas unidades de produção de ureia, um fertilizante.

Prevista na Lei do Gás, três anos após a sanção, a utilização do insumo como matéria-prima carece ainda de decisões que só o governo federal pode tomar.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) precisa definir como o país vai garantir a oferta de gás e como será a política de preços para o insumo.

O problema é que o sistema não pode ser o adotado atualmente pela Petrobras, principal fornecedora de gás no país, cujas bases são a falta de garantia de oferta e preços bem acima daqueles praticados no mercado mundial.

O Ministério de Minas e Energia criou um grupo interministerial em outubro de 2011 para analisar a questão, mas a primeira reunião ocorreu somente neste mês.

A Abiquim tenta duas medidas: garantia de oferta de gás e uma política de preço com valor equivalente ao do mercado internacional.

Henri Slezynger, presidente do conselho da associação, diz que, sem contratos de longo prazo, a indústria não vai investir. "Como o setor químico vai montar uma fábrica em que a única matéria-prima é vendida em contratos esporádicos?", questiona.

A Petrobras, dona de grandes reservas, faz duas alegações: 1) não sabe qual o volume de gás que terá no pré-sal; 2) grande parte do gás disponível serve para garantir a geração das termelétricas.

PREÇO

Outro problema é o preço. Nos Estados Unidos, o preço do gás de xisto ("shale gas"), mercado que está se tornando um concorrente, é inferior a US$ 2 por milhão de BTU (medida britânica para o poder calorífico do gás).

No Brasil, o preço supera os US$ 14 por milhão de BTU. "A esse preço, nenhum projeto industrial se viabiliza", diz Slezynger.

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