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Michael Spence

Reinventar a relação EUA-China

A China precisa da inovação americana para crescer, e os EUA precisam dos mercados chineses para se expandir

A China e os EUA passam por grandes mudanças estruturais as quais, ambos temem, podem pôr fim à era dourada na qual o país asiático produzia bens de baixo custo e os americanos os consumiam.

Ambos precisam reconhecer que o velho padrão de interdependência mutuamente benéfica se esgotou e que um novo modelo é necessário.

O modelo antigo serviu bem aos dois lados por três décadas. O crescimento da China foi estimulado por exportações que requeriam uso intensivo de mão de obra e que ganharam competitividade em razão de transferências de tecnologia e conhecimento pelos EUA e por outras nações ocidentais.

Esse fator, somado ao pesado investimento público e privado chinês (propiciado por níveis de poupança elevados), serviu de fundação ao crescimento da renda de milhões de chineses.

O consumidor norte-americano, de sua parte, beneficiou-se fortemente da queda nos preços relativos dos produtos industrializados. Com isso, o padrão de emprego nos EUA mudou em benefício de atividades de valor adicionado mais alto, o que também sustentou uma elevação na renda norte-americana.

O papel da China está mudando. No passado fornecedor de produtos de baixo custo ao Ocidente, agora o país está se tornando grande comprador de produtos ocidentais. Isso representa oportunidade para que as companhias avançadas reequilibrem seu crescimento e emprego, desde que estejam posicionadas para concorrer pelas porções apropriadas das novas cadeias de suprimento que estão se desenvolvendo.

A renda em alta na China também implica mudança estrutural no país, porque o crescimento continuado pressupõe evolução rumo a atividades de valor mais elevado. Tecnologia e conhecimento serão importantes, mas a China precisa começar a gerar novas tecnologias, além de absorver ferramentas e capacidades ocidentais.

A fim de superar os desafios da mudança estrutural, o objetivo político dos EUA deveria ser ampliar o escopo de seu setor exportável, tendo por foco expandir o emprego. Reorientar a política norte-americana no sentido de satisfazer demanda externa em gama mais ampla de setores requereria, por sua vez, atenção a duas áreas cruciais: educação e investimento.

Educação de alta qualidade e desenvolvimento de capacitação profissional mais efetiva são cruciais para gerar investimento e novas oportunidades de emprego para a classe média, podendo retificar a desconexão entre empresas americanas, em especial as de médio porte, e cadeias mundiais de suprimento. As companhias exportadoras e a infraestrutura que economias menores e mais abertas criaram a fim de se conectar aos mercados mundiais são subdesenvolvidas nos EUA.

Do lado chinês, receitas políticas não são o problema. A importância de desenvolver um padrão diferente de crescimento já foi compreendida e se tornou parte do 12º Plano Quinquenal do país. A implementação bem-sucedida do plano requer reforçar os incentivos à inovação, desenvolver a base tecnológica, investir mais em capital humano, desenvolver o setor financeiro e aplicar a política de competição de maneira igualitária às empresas nacionais, estrangeiras e estatais.

Dados os requisitos para ambos os lados, é simples garantir um relacionamento produtivo e benéfico entre China e EUA. Os chineses precisam de acesso aos mercados e à tecnologia dos países avançados, mas a ênfase está mudando em direção a inovação, conhecimento e capacitação desenvolvidos no país.

Nos EUA, um esforço determinado para restaurar o equilíbrio fiscal e estabelecer um padrão de crescimento sustentável -ou seja, que não dependa de consumo interno excessivo- é tarefa crucial para a saúde econômica a longo prazo. Essa mudança implica redução sustentada no deficit em conta-corrente, por meio da expansão de exportações.

O cerne do relacionamento é simples: a China precisa da inovação americana para crescer, e os EUA precisam dos mercados chineses para se expandir. Se os dois lados pretendem se beneficiar dessa simbiose, só lhes resta colaborar, investir e promover reformas -de ambos os lados do Pacífico.

MICHAEL SPENCE, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, é professor de Economia na Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York). Este texto foi distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

AMANHÃ EM MERCADO:
Maria Inês Dolci

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