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Roberto Rodrigues

Novas projeções para o agro

Se não houver estímulo à produção de arroz e feijão, o Brasil terá de importar esses alimentos em 2022

NESTA SEMANA a Fiesp, por meio do seu Departamento de Agronegócio (Deagro), e o Icone apresentaram suas projeções para o Agronegócio Brasileiro em 2022, o chamado "Outlook Brasil 2022", com o objetivo de oferecer uma visão de longo prazo para os diversos elos das cadeias produtivas do agro, de modo a instrumentalizar a indústria que opera antes das porteiras das fazendas -insumos agropecuários- e a que trabalha depois das porteiras -indústria de alimentos- para se posicionarem ante à dinâmica futura da nossa agropecuária.

Trata-se do resultado de três anos de trabalho conjunto do Deagro/Fiesp e Icone, que tomou por base o modelo do Fapri (Food and Agricultural Policy Research Institute) usado desde 1980 pelos Estados Unidos e aperfeiçoado para a nossa realidade.

Foram analisados os seguintes produtos: arroz, feijão, milho, complexo soja, algodão, trigo, cevada, açúcar e álcool, ovos e as três carnes (bovina, suína e de aves), observadas as suas áreas de cultivo, produtividade, consumo doméstico, produção, exportações líquidas e estoques.

A partir das projeções para os diferentes produtos, foram analisados seus impactos na dinâmica do uso da terra, na demanda por fertilizantes e a logística de transportes, bem como os impactos sociais e econômicos, como emprego e PIB.

Os resultados indicam que as exportações desses produtos aumentarão até 2022 num ritmo menor do que nos últimos dez anos (à exceção da carne bovina), mas, mesmo assim, o crescimento será acima da média mundial. Com isso, nossa participação relativa nas exportações globais desses produtos também aumentará.

Em relação às carnes, aumentaremos o nosso market share entre 2011 e 2022. Saltaremos de 26,1% para 38% em carne bovina, de 50% para 54,1% na de frango e de 10,5% para 13,4% na suína.

Nossa participação nas exportações mundiais de soja saltará de 34,7% para 41,2%; já no açúcar o salto será de 67,6% para 73%.

No entanto, se não houver maior estímulo para a produção de arroz e feijão, o consumo desses importantes alimentos dependerá de importações em 2022, respectivamente de 4,6% e de 2,4% da demanda nacional.

No quesito uso da terra, haverá redução de 63% no ritmo de incorporação de novas áreas: entre 2002 e 2011, foi incorporado 1,212 milhão de hectares por ano e, de 2012 a 2022, 443 mil hectares por ano.

Em compensação, a produtividade média dos grãos crescerá 11,4% até 2022, preservando 5,2 milhões de hectares. Em outras palavras, a área plantada com grãos crescerá 15,9% e a produção, 29,1%.

Fato auspicioso é o crescimento da produção nacional de fertilizantes, que será da ordem de 79% até 2022, o que reduzirá nossa dependência de importação de NPK de 71% para 56%.

O PIB dos produtos analisados crescerá 42% (saltará de R$ 408,3 bilhões em 2010 para R$ 578,2 bilhões em 2022), mas perderá participação no PIB total do país devido ao desempenho do setor de serviços. Todo esse esforço gerará 5,7 milhões de novos postos de trabalho, o que significa aumento de 34% sobre os empregos existentes no setor em 2010.

Por fim, o estudo mostra a pungente necessidade de melhorar a estrutura de transportes e dos portos: em 2022, 87,5% dos principais portos do país atuarão acima da sua capacidade. Por outro lado, se o PAC sair do papel e forem aplicados os R$ 44 bilhões previstos para investimentos em ferrovias, teremos uma melhoria importante no transporte ferroviário, cuja participação no escoamento dos produtos do agro saltará de 22% para 40%.

Esse será um fator determinante para a melhoria da competitividade do nosso setor, desde que o custo do frete ferroviário passe a se diferenciar de forma significativa em relação ao rodoviário.

Em resumo, o excelente estudo Fiesp/Icone mostra que as projeções feitas no ano passado pela OCDE, segundo as quais o Brasil precisa crescer 40% na sua produção de alimentos para que o mundo cresça 20%, não estão fora da realidade. Vamos chegar lá.

ROBERTO RODRIGUES, 69, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 14 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
John Gapper

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