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Análise

Patamar do câmbio e geração de empregos ditam novo rumo

ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A atividade econômica continua esfriando. E as medidas do governo para deter esse processo não estão surtindo o efeito esperado.

Vendas no varejo e emprego, apesar de permanecerem em nível elevado, estão reduzindo o ritmo. Por causa disso, as expectativas de crescimento estão convergindo para menos de 3% neste ano.

A economia não parou, mas está desacelerando rapidamente.

Além da incerteza causada pela crise externa, esse quadro se deve à combinação de outros dois fatores.

De um lado, a forte valorização cambial que ocorreu até março apertou as margens de lucro das empresas mais expostas à concorrência externa.

Ramos inteiros da indústria de transformação foram afetados, obrigando o governo a adotar medidas de desoneração na tentativa de reverter a perda de competitividade, sem muito sucesso.

De outro lado, com o mercado de trabalho ainda muito aquecido e a inflação na casa dos 5%, os sindicatos têm sido o lado forte nas negociações salariais, obtendo reposição total das perdas, além de ganhos reais.

Nesse cenário, a menor lucratividade das empresas é inevitável. E empresas menos lucrativas tendem a investir menos, gerando um ciclo vicioso de desaceleração.

É um quadro que preocupa. O governo vem respondendo com reduções de juros, pressão por queda de "spreads" bancários e aponta para mais redução de impostos. É uma luta dura em busca da competitividade perdida.

Por tudo isso, fica fácil compreender a atitude do governo quando afirma que a alta recente do dólar é boa para a atividade econômica.

Desde o começo de março, o câmbio já subiu mais de 16%. Em paralelo, a criação de empregos caiu cerca de 20% no primeiro quadrimestre na comparação com o mesmo período de 2011.

Juntos, esses números representam uma grande mudança de rumos no ambiente de negócios.

O que se pode esperar nos próximos meses?

Juros baixos e dólar alto, em geral, pressionam a inflação. Mas, com juros e impostos em queda, as empresas devem conseguir equilibrar seus custos, sobretudo no setor industrial.

O mercado de trabalho menos aquecido e a concorrência menor de importados, fica mais fácil recompor margens de lucro.

O setor produtivo terá de arrumar a casa em um cenário de crescimento mais lento e inflação em alta.

Ao mesmo tempo, mais do que nunca vai ser preciso contar com a habilidade do Banco Central em administrar o câmbio, evitando altas exageradas. Um belo desafio.

ROBSON GONÇALVES é professor dos MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos.

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