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Análise / Commodities

Relação entre preços internos e externos muda durante crises

Cenário atual de volta do crescimento dos preços externos merece atenção

NOS PERÍODOS CONSIDERADOS, TEMOS DUAS EXPANSÕES E DUAS CONTRAÇÕES DOS PREÇOS DE COMMODITIES, CLARAMENTE ASSOCIADOS AOS EPISÓDIOS DAS DUAS CRISES FINANCEIRAS RECENTES

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados recentes sobre inflação vêm de certa forma corroborando a visão do Banco Central ao dar início ao processo de redução dos juros, que atualmente se encontram em seu menor nível histórico.

Parte importante dessa visão diz respeito ao comportamento favorável nos preços internacionais das commodities em geral, no contexto de aprofundamento da crise financeira das economias centrais.

Internamente, isso é refletido nos preços dos bens comercializáveis com o exterior, dada a grande integração do Brasil aos mercados internacionais de várias commodities importantes.

A medida mais sensível para isso é o Índice de Preços ao Produtor Amplo (Ippa), calculado pela Fundação Getulio Vargas, dada a grande participação de bens comercializáveis em sua composição.

Uma boa medida do comportamento dos preços das commodities nos mercados internacionais é dada pelo Thompson-Reuters Commodity Index (CRB).

Analisando as trajetórias do CRB e do Ippa nos últimos dez anos, notamos uma grande correlação, com exceção dos momentos marcados pelas duas crises recentes.

Nesses momentos, a queda na demanda mundial resultou em grandes reduções dos preços das commodities agrícolas e minerais, impactando diretamente o CRB, e reduzindo muito a correlação entre o CRB e o Ippa.

Isso contrasta com os períodos de aceleração dos preços, em que tanto o CRB como o Ippa crescem conjuntamente, com uma correlação muito superior.

A variável faltando nessa análise é a taxa de câmbio, que transforma os preços internacionais em preços internos.

A tabela acima mostra a evolução das variações percentuais acumuladas em períodos escolhidos por marcar claramente o início e o fim de ciclos de preços de commodities segundo o CRB.

Nos quatro períodos considerados, temos duas expansões e duas contrações dos preços de commodities, claramente associados aos episódios das duas crises financeiras recentes.

Nota-se que, nos períodos de elevação do CRB, as elevações do Ippa são proporcionalmente muito menores, o que, em parte, é explicado pela variação negativa da taxa de câmbio.

Esse mesmo raciocínio é válido nos outros dois períodos, como o último que estamos vivendo.

No entanto, nesses períodos associados às crises internacionais, o movimento da taxa de câmbio parece praticamente suficiente para anular o efeito da queda do CRB sobre os preços internos.

A mensagem aqui é que as fases desse ciclo parecem impor de fato dois regimes diferentes nas dinâmicas dos preços -e que o cenário provável no momento de uma volta do crescimento dos preços externos das commodities sobre as cotações internas merece atenção.

PAULO PICCHETTI, doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

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