Problemas elétricos não são isolados, diz analista

O sistema elétrico recebeu bilhões de reais em investimentos nos últimos anos, sobretudo em geração, mas peca pela gestão ineficiente das estatais, inclusive da Aneel, segundo especialistas consultados pela Folha.

Os recentes apagões, para estudiosos, revelam que há algo errado no sistema e que não são apenas casos pontuais, como diz o governo.

"O que nós temos é uma série de pequenos problemas. Mas o avião às vezes cai por pequenos problemas", disse o ex-presidente da Eletrobras e diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa.

Para ele, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não atua como deveria.

O próprio governo, que minimiza as interrupções classificadas pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) como "apaguinhos", criou anteontem um grupo de trabalho para verificar os sistemas de transmissão e distribuição.

Ontem, técnicos da Aneel e do ONS estiveram reunidos para avaliar os últimos acontecimentos.

Apesar de não serem em grande número, os apagões considerados "relevantes" poderiam ser evitados com uma gestão melhor.

"Existem, sim, problemas estruturais, de manutenção, de dimensionamento que não estão sendo estressados porque o Brasil entrou em desaceleração da atividade industrial", avalia o analista da corretora Ativa Ricardo Correia.

Para Pinguelli, o principal problema é falta de engenharia e tecnologia nas estatais.

O sinal disso foi o incêndio em um gerador da subestação de Furnas na quarta-feira passada, que provocou a interrupção da energia em 12 Estados.

Furnas afirmou que está investindo R$ 1,5 bilhão a partir deste ano para reforçar e modernizar seu sistema de transmissão e em procedimentos de manutenção.

Segundo a empresa, em 2011 foram aplicados R$ 280,5 milhões e, neste ano, até setembro, R$ 249,7 milhões.

REDUÇÃO DO PREÇO

As distribuidoras afirmam que já deram sua cota de sacrifício para a redução do preço da energia elétrica.

Uma revisão extraordinária das tarifas para as elas está prevista para fevereiro de 2013 pela Aneel e integra o pacote de medidas anunciados pela presidente Dilma Rousseff em setembro para baixar o custo da energia.

Segundo a Abradee (associação de distribuidores de energia elétrica), as empresas do setor já estão reduzindo os preços por conta do terceiro ciclo de revisão tarifária, em vigor desde o ano passado."Não há espaço para mais reduções", diz Nelson Fonseca Leite, presidente da associação.