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Guerra dos juros

Juros reais terão que ir a 5%, dizem estudos

Análises publicadas pela FGV e pelo FMI apontam que atual taxa básica fixada pelo Banco Central não é sustentável

Pesquisadores, no entanto, reconhecem que país tem opção de usar controle de crédito e de risco bancário

GUSTAVO PATU
DE SÃO PAULO

Duas análises publicadas neste mês, pela Fundação Getulio Vargas e pelo Fundo Monetário Internacional, indicam que o patamar atual dos juros brasileiros -o menor em tempos de inflação civilizada- não é sustentável.

Com abordagens diferentes, os trabalhos concluem que a taxa do Banco Central, mais cedo ou mais tarde, será elevada para algo mais próximo de 5% ao ano acima da variação dos preços.

Do ano passado para cá, o Banco Central reduziu seus juros, que servem de base para o rendimento das aplicações finaceiras e para o custo dos empréstimos. A taxa passou de 12,5% para 7,25%, menos de 2% acima da inflação esperada para os próximos 12 meses. "A forte queda dos juros reais é até agora, ao menos no plano macroeconômico, a conquista mais vistosa do governo da presidente Dilma Rousseff", resume o texto da Fundação Getulio Vargas -que não aposta na longevidade do feito.

Na argumentação da entidade, o corte dos juros foi permitido pela combinação de três fatores: taxas abaixo da inflação no mundo desenvolvido, maior credibilidade internacional do país e estagnação da economia.

Em outras palavras, o Brasil pôde se manter atrativo para o capital externo mesmo proporcionando rendimentos mais baixos nas aplicações financeiras, enquanto a freada do consumo e dos investimentos conteve os preços.

Mais à frente, a política monetária internacional começará a voltar à normalidade nos Estados Unidos e na Europa, a economia brasileira vai acelerar e a diferença entre os juros domésticos e os externos deve se aproximar novamente dos níveis tradicionais. "Assim, não seria surpresa se, num prazo de poucos anos, o Brasil tivesse uma taxa de juros reais mais elevada, em torno de 5%", afirma o documento publicado pela Fundação Getulio Vargas.

Ressalva-se, porém, que não há "nenhum fatalismo nessa análise".

Segundo o texto, as taxas podem ser menores se o governo brasileiro permitir a livre flutuação das cotações do dólar -hoje há intervenções para evitar que a apreciação do real prejudique as exportações.

FMI

Já o estudo assinado por dois economistas do Fundo Monteário Internacional estimou, para dez países latino-americanos, que taxa de juros é necessária para manter a economia em crescimento e a inflação sob controle -o que se chama, em economês, de taxa neutra.

As sete metodologias empregadas resultaram, no caso do Brasil, em taxas reais entre 4,5% e 5,7%, numa média de 5,1%.

Trata-se da maior média da amostra, seguida pelos 3,8% do Uruguai.

O trabalho chega a dedicar uma seção à parte ao "enigma" dos juros altos brasileiros, cujas causas ainda desafiam os especialistas. São listadas explicações e hipóteses, nenhumas delas plenamente satisfatória.

Histórico de calotes da dívida pública, escassez de poupança e intervencionismo estatal também são encontrados em outros emergentes que não praticam juros tão altos.

Os pesquisadores do Fundo entendem, entretanto, que a experiência brasileira apresenta uma alternativa de política monetária: o uso de medidas de controle do crédito e do risco bancário, conhecidas como macroprudenciais.

Ao evitar que uma alta exagerada dos financiamentos bancários impulsione a inflação, providências do gênero podem permitir que o BC trabalhe com juros menores.

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