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Vinicius Torres Freire

Itália, entre sufoco e asfixia

Depois do novo pico da crise, juros da Itália vão baixar ou país vai da iliquidez à insolvência?

UMA CONVERSA que se ouve em tempos de tumulto financeiro, em geral de gente que quer dourar a pílula, é que tal empresa, banco ou governo padece de "crise de liquidez", mas não de "insolvência". Isto é, está temporariamente sem acesso a financiamento a custo razoável, mas é fundamentalmente capaz de pagar suas contas, grosso modo.

Em suma, na crise de liquidez, o fulano está sendo sufocado, pois apertam seu pescoço. Na insolvência, morre por falta de ar. Mas se diga o óbvio sarcástico: um tempo adequado de asfixia leva à morte.

"Iliquidez" duradoura provoca insolvência; são raras as insolvências que não são precedidas por um tempo de "iliquidez". Quão perto a "iliquidez" da Itália está de se transformar em insolvência?

Caso as autoridades europeias tivessem controlado a crise grega lá entre 2009 e 2010, é bem provável que a Itália pudesse empurrar seus problemas com a barriga durante algum tempo, mesmo cortando gastos a conta-gotas. A dívida gigantesca, maior que o PIB, crescia no entanto devagar, assim como a economia italiana, praticamente estagnada faz uma década. Na verdade, até faz pouco a Itália não estava nem "ilíquida", embora no caminho certo da insolvência num futuro incerto, caso ficasse inerte.

A julgar pelo retorno ("juros") dos papéis da dívida do governo italiano, até maio deste ano a Itália não estava na mira dos credores (os donos do dinheiro grosso, os "mercados"). Foi quando a Grécia foi à breca pela segunda vez (a primeira fora em maio de 2010).

Os europeus então ainda diziam que um pacote mais gordo de dinheiro e arrocho terminal na Grécia dariam conta do recado, mas começou a ficar claro e a ser admitido que:

1) A Grécia teria de dar um calote parcial e camuflado na sua dívida; 2) A maioria dos países da eurozona teria de aprofundar o arrocho (corte de gastos públicos, contração econômica) a fim de parecer em boa forma para os credores; 3) Mesmo que bem-sucedidas, pelo menos do ponto de vista dos credores, os cortes de gastos, as reformas e as privatizações levariam tempo para acontecer e surtir efeito.

Ou seja, aumentou o risco percebido de deter dívidas de governos da periferia europeia e a percepção de que, sem crescimento econômico, as dívidas ficariam relativamente cada vez maiores.

Foi então que o custo de financiamento da dívida italiana passou a subir quase sem parar. Era a reação da praça à ameaça de solução catastrófica da crise grega (calote sem acordo, "desordenado") e de que na Itália não sairiam nem as reformas de efeito duvidoso.

A situação italiana vai melhorar, caso sejam estancadas essas sangrias mais recentes (Grécia sem governo, Itália e Grécia ameaçando não aprovar as "reformas")?

Isso equivale a perguntar se, neste ponto da fritura, a desconfiança sobre os bancos italianos já não é crítica; ou se a desconfiança dos bancos italianos na dívida de seu país também chegou a esse ponto.

Nesses casos, um banco central de um país pode ajudar a escorar seus bancos. Ou, então, um governo nacional pode cortar gastos e, ao mesmo tempo, desvalorizar a moeda de modo a tornar o país "competitivo". Moeda a Itália não tem. E não há um banco central ou equivalente para escorar a banca.

vinit@uol.com.br

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