São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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Brasil será testado na capitalização, diz minoritário estrangeiro

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Maior acionista minoritário da Petrobras, a gestora americana BlackRock afirma que a credibilidade do Brasil será testada com a capitalização. Por esse motivo, a gestora crê que o governo e a Petrobras vão procurar preservar os interesses dos minoritários. "Não será a última vez que a Petrobras terá de ir ao mercado levantar dinheiro", diz o gestor Will Landers.

 

Folha - A BlackRock vai acompanhar a capitalização? Quais variáveis vocês olham?
Will Landers -
A principal é o preço do barril. Sem dúvida, o preço da ação é importante. Mas o que falta para terminar nosso trabalho de avaliação e saber se a operação faz sentido ou não é o preço do barril de petróleo.

Existe um preço-limite?
Não. Vai depender não só do preço mas também de como a operação é estruturada.

O seu cotista pergunta se a BlackRock vai aderir?
Ele não pergunta isso. Qualquer decisão de gestão de portfólio é 100% minha. É para isso que nos contratam. Para um acionista de um fundo de América Latina, a questão da Petrobras não é mais importante do que saber se o Brasil vai crescer ou como vai ser o próximo governo.

O BlackRock tem alguma queixa sobre o tratamento dado aos minoritários?
Não vou reclamar antes de saber qual é a absorção final do negócio. O caso não terminou ainda. Hoje, essa discussão está muito mais na mídia do que entre os acionistas. Ficou muito politizado. Vamos esperar para ver se a operação vai ser feita de maneira que deixe o mercado confortável. Não será a última vez que a Petrobras terá de ir ao mercado levantar dinheiro.

A credibilidade do Brasil será testada com essa operação?
Vai ser a maior operação já feita pelo Brasil. Todo mundo está prestando atenção. Essa é parte da razão pela qual a operação já foi atrasada uma vez. Com uma operação desse tamanho, tem de fazer tudo certinho, senão não vai acontecer.

As ações da Petrobras foram punidas pelas incertezas?
Sem dúvida. Mas isso acontece também porque o acionista será diluído. A operação lembra ao mercado que a Petrobras é uma companhia do governo. Qualquer companhia do governo -e não é só no Brasil- vai ter um desconto em relação a uma companhia 100% privada. E pelo simples fato de que sempre tem essa possibilidade de troca do governo.

Por que o BlackRock reduziu a participação na Petrobras?
O que ocorreu foi que o peso da ação caiu em nosso portfólio. Há um ano e meio, a Petrobras representava 20% da América Latina; hoje, 12%. A gente vendeu um pouco há uns dois ou três meses devido à preocupação com a incerteza sobre o tamanho e a forma da operação.

Como vocês explicam ao cotista o que ocorre com a ação?
Falo que existe uma incerteza dada a necessidade da companhia de se capitalizar e por isso estamos com uma posição menor. E que isso não tem muito a ver com os fundamentos da companhia, mas que é uma questão acionária. Potencialmente, você vai ser diluído se não gostar do preço do barril que o governo vai propor ou impor.


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