São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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Banco Central interrompe alta dos juros

Após três altas consecutivas, Copom mantém taxa Selic em 10,75%, refletindo desaceleração do segundo trimestre

Para analistas, Selic não deve sofrer alterações até o fim de 2011, com a decisão ficando para o próximo governo

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu ontem manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,75% ao ano.
A decisão foi unânime e interrompe o último ciclo de aperto monetário do governo Lula. A taxa Selic começou a subir em abril. Na época, estava em 8,75% ao ano, menor nível da história recente.
A expectativa do mercado financeiro, no entanto, é que o BC deixe de herança para o próximo governo a tarefa de promover uma nova rodada de aumento, em 2011, para segurar a inflação.
A decisão de ontem era esperada pela maioria dos economistas. A previsão agora é que os juros terminem 2011 em 11,50% ao ano.
O Copom ainda tem duas reuniões neste ano, em outubro e dezembro, mas não há expectativas de mudanças.
A Selic serve de base para o custo dos empréstimos a empresas e consumidores.
Para especialistas, o cenário agora é de estabilidade nos juros bancários, pois a alta esperada para a taxa básica no próximo ano deve ser compensada pela queda nos custos ligados à inadimplência, entre outros fatores.
Na nota divulgada após a reunião, o Copom diz que "não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo". Diz ainda que observa continuação do processo de redução de risco para o cenário inflacionário.
A decisão de manter a taxa básica reflete a avaliação do BC de que a economia brasileira teve forte desaceleração no segundo trimestre, quando cresceu a uma taxa próxima de 1%, abaixo dos quase 3% vistos no início do ano.
O dado oficial sobre o PIB do segundo trimestre será divulgado amanhã pelo IBGE.
Também pesaram na decisão a queda da inflação, devido ao recuo no preço dos alimentos, e à fraca recuperação da economia global.
Ao contrário do que ocorreu na reunião de julho, não houve divergências entre o discurso do Banco Central sobre a inflação e a decisão do Copom, segundo avaliação do mercado financeiro.

ANALISTAS
Com a decisão do Copom de manter os juros, os economistas Roberto Padovani, do banco WestLB, e Bráulio Borges, da LCA Consultores, acreditam que a Selic não sofrerá mais alterações até o final de 2011.
Para Padovani, o BC deu sinais de que a alta de dois pontos percentuais da Selic entre abril e julho é suficiente para conter a inflação e trazê-la para próximo do centro da meta (4,5%) em 2011.
Segundo o mais recente IPCA divulgado, a inflação acumulada em 12 meses estava em 4,6% em julho. Padovani prevê que fechará o ano em 5%. A LCA Consultores projeta 4,9% para 2010 e 4,6% para o ano seguinte.

Borges afirma que a inflação deve ficar sob controle até 2011 devido à recente alta da Selic, à competição de preços com produtos importados e à alta menor do salário mínimo em 2010.
A Fiesp disse em nota que o Copom deveria pedir desculpas pela recente elevação da Selic: "Tivemos uma desnecessária alta de juros e, agora, essa tendência é suspensa".
A associação das indústria do Rio defendeu ajuste fiscal para permitir a retomada da queda da taxa.


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