|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE PECUÁRIA
Somente quem produzir leite de qualidade será bem remunerado
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Brasil possui em torno
de 1,3 milhão de propriedades com produção leiteira.
Nelas, a média de produção é
de cerca de 59 litros por propriedade por dia, índice considerado muito baixo.
Existem estabelecimentos
leiteiros eficientes e bem estruturados, grandes e pequenos.
São propriedades gerenciadas como empresas rurais, com controle contábil e
zootécnico e nas quais as decisões são tomadas racionalmente, com eficiência no manejo animal, na reprodução,
na produção e na qualidade
do leite produzido.
Entretanto, significativa
parcela de produtores ainda
tem a produção leiteira como
subsistência.
Nessas propriedades, a
produtividade é baixa, e raramente a venda do leite
constitui a principal fonte de
renda.
As terríveis consequências
disso são, entre outras, a baixa qualidade do leite e a perpetuação do círculo vicioso
na produção em condições
inadequadas de manejo.
A qualidade do leite está
diretamente relacionada à
sanidade do rebanho, à higiene no processo de produção, ao armazenamento e ao
transporte.
Nenhum desses itens é
mais ou menos importante
-portanto, todos devem ser
considerados e adotados para uma boa produção.
O leite será de baixa qualidade caso o local de ordenha
esteja contaminado, se as vacas, os equipamentos e o ordenhador não tiverem a higiene adequada e se a temperatura de armazenamento estiver fora da recomendada.
Também no trajeto da propriedade ao laticínio, as condições impróprias de conservação do leite favorecem o
desenvolvimento e a multiplicação de micro-organismos.
Mas o problema não termina aí, pois o laticínio não poderá produzir um bom alimento a partir de uma matéria-prima de baixa qualidade.
Os produtos de maior valor agregado, como iogurtes
e queijos finos, dependem de
processos fermentativos controlados, o que não é possível
fazer quando é utilizado um
leite contaminado.
Ou mesmo quando ocorre
a adição de conservantes,
tais como bicarbonato de sódio e soda cáustica, para garantir que o leite, ainda que
produzido em condições precárias, não chegue azedo ao
laticínio.
Uma das consequências é
a redução da remuneração
ao produtor, que sempre diz
não poder evoluir por falta de
recursos.
O leite é um produto nobre
e deve ser produzido e processado como tal.
Com a adoção de práticas
simples, de higiene e controle, é possível obter um alimento nutritivo, saudável e
que remunere adequadamente o produtor.
A tecnologia existe e está
disponível. As exigências de
qualidade serão, a partir de
agora, cada vez maiores.
É pegar ou largar!
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico
veterinário, doutor e supervisor do sistema
de leite da Embrapa Pecuária Sudeste (São
Carlos, São Paulo).
Texto Anterior: Commodities: Mato Grosso anuncia descoberta de "pré-sal" em minério e fosfato Próximo Texto: Fracassa tentativa da Vale de controlar a Paranapanema Índice
|