São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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ANÁLISE PECUÁRIA

Somente quem produzir leite de qualidade será bem remunerado

MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil possui em torno de 1,3 milhão de propriedades com produção leiteira.
Nelas, a média de produção é de cerca de 59 litros por propriedade por dia, índice considerado muito baixo.
Existem estabelecimentos leiteiros eficientes e bem estruturados, grandes e pequenos.
São propriedades gerenciadas como empresas rurais, com controle contábil e zootécnico e nas quais as decisões são tomadas racionalmente, com eficiência no manejo animal, na reprodução, na produção e na qualidade do leite produzido.
Entretanto, significativa parcela de produtores ainda tem a produção leiteira como subsistência.
Nessas propriedades, a produtividade é baixa, e raramente a venda do leite constitui a principal fonte de renda.
As terríveis consequências disso são, entre outras, a baixa qualidade do leite e a perpetuação do círculo vicioso na produção em condições inadequadas de manejo.
A qualidade do leite está diretamente relacionada à sanidade do rebanho, à higiene no processo de produção, ao armazenamento e ao transporte.
Nenhum desses itens é mais ou menos importante -portanto, todos devem ser considerados e adotados para uma boa produção.
O leite será de baixa qualidade caso o local de ordenha esteja contaminado, se as vacas, os equipamentos e o ordenhador não tiverem a higiene adequada e se a temperatura de armazenamento estiver fora da recomendada.
Também no trajeto da propriedade ao laticínio, as condições impróprias de conservação do leite favorecem o desenvolvimento e a multiplicação de micro-organismos.
Mas o problema não termina aí, pois o laticínio não poderá produzir um bom alimento a partir de uma matéria-prima de baixa qualidade.
Os produtos de maior valor agregado, como iogurtes e queijos finos, dependem de processos fermentativos controlados, o que não é possível fazer quando é utilizado um leite contaminado.
Ou mesmo quando ocorre a adição de conservantes, tais como bicarbonato de sódio e soda cáustica, para garantir que o leite, ainda que produzido em condições precárias, não chegue azedo ao laticínio.
Uma das consequências é a redução da remuneração ao produtor, que sempre diz não poder evoluir por falta de recursos.
O leite é um produto nobre e deve ser produzido e processado como tal.
Com a adoção de práticas simples, de higiene e controle, é possível obter um alimento nutritivo, saudável e que remunere adequadamente o produtor.
A tecnologia existe e está disponível. As exigências de qualidade serão, a partir de agora, cada vez maiores.
É pegar ou largar!


MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico veterinário, doutor e supervisor do sistema de leite da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, São Paulo).


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