São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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Indústria tem crescimento recorde, mas já se desacelera

Alta recorde de 10,5% não se repetirá por causa do impacto negativo do câmbio

Enfraquecida pela crise, base de 2009 contribuiu para o bom resultado; bens de capital tiveram forte expansão em 2010

PEDRO SOARES
DO RIO

Apesar da perda de competitividade provocada pelo câmbio, a indústria brasileira deixou a crise para trás e fechou 2010 com crescimento de 10,5%, o mais elevado desde 1986.
A indústria, porém, já viveu dias melhores. Seu pico de produção ocorreu em março de 2010, quando o setor ainda sentia os reflexos positivos das desonerações fiscais do governo, lançadas na crise para estimular ramos como o automotivo, a construção e o de eletrodomésticos da linha branca.
Enfraquecida pela crise, a própria base de comparação de 2009 também impulsionou o resultado do setor. Já o real valorizado conteve a atividade fabril de importantes ramos, que convivem com exportações em queda e invasão de importados.
Tal efeito se mostrou mais intenso ao final de 2010. Em dezembro, a produção da indústria surpreendeu e caiu 0,7% ante novembro, taxa acima do esperado. Desde agosto, a indústria vinha num processo de estagnação, mas perdeu ainda mais força em dezembro.
Nem mesmo as encomendas de final de ano ajudaram. "Certamente, o câmbio contribuiu para uma desaceleração maior da indústria, o que deve se manter em 2011", prevê Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Vale diz que, diante disso, a hipótese de que um acúmulo excessivo de estoques segurava o desempenho da indústria caiu por terra.
Já para André Macedo, do IBGE, esse impacto responde em parte a perda de ritmo da indústria, embora considere também "importante" o efeito do câmbio.
"Há uma flagrante perda de competitividade de se produzir no país [em decorrência da valorização do real]", acrescenta o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para a LCA, a indústria perdeu ritmo e será também afetada em 2011 pela menor confiança de empresários e pela política monetária mais restritiva, com novas rodadas de alta de juros. O câmbio, avalia, também vai segurar a expansão do setor.
Diante desse cenário, a consultoria revisou para baixo sua projeção de crescimento da indústria em 2011 -de 4% para 3,5%. Vale diz que o PIB, porém, tende a crescer ainda na faixa de 4,5% graças ao bom desempenho do setor de serviços, inume ao impacto cambial.
A indústria só não irá pior em 2011, diz Vale, porque o governo dá sinais de que manterá políticas fiscal e monetária "frouxas" neste ano, sem conseguir debelar a inflação -que deve fechar o ano em 6%, acima de 2010.

BOA NOTÍCIA
O perfil do crescimento da indústria sinalizou, por outro lado, a retomada dos investimentos no ano passado: a categoria de bens de capital liderou a expansão, com alta recorde de 20,8% em 2010, também a maior desde 1986.
O resultado mais do que devolve a retração de 17,4% de 2009, quando a crise derrubou os investimentos do setor produtivo.


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