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Grevistas marcam ponto, todos os dias, mesmo debaixo de neve
DA ENVIADA A SUDBURY
Sob o abrigo de cabanas
improvisadas de madeira e
lona, cercadas de lixo, cinzas
e eletrodomésticos quebrados, grevistas de Sudbury
marcaram ponto todos os
dias do último ano, até debaixo de neve, em piquetes
nas portas da mina da Vale.
"Fazemos churrasco e
contamos histórias", diz
R.D., 46, mineiro há 20 anos,
na entrada do complexo de
Copper Cliff. Também param
todos os carros que entram
por até 15 minutos, um direito conseguido na Justiça.
"É o que podemos fazer.
Os executivos da Vale são
banqueiros gananciosos,
não se importam com as pessoas."
Perto das outras opiniões
que a Folha ouviu dos funcionários da empresa, a fala
de R.D. foi suave.
Há adesivos com os dizeres "Foda-se a Vale (Fuck Vale)" e outros com garotinhos
urinando no símbolo da empresa; há cartazes com altos
executivos sob as palavras
"brasileiro imbecil".
A aversão explícita contra
a Vale que tomou os mineiros
de Sudbury rendeu também
anedotas que os funcionários garantem ser verdadeiras, mas a empresa nega.
A mais comum conta que
um executivo brasileiro, ao
ver um estacionamento lotado em um dos complexos de
Sudbury, se espantou por saber que os carros eram dos
mineiros. "O quê? Os camponeses têm carros?", teria dito
o executivo.
Real ou não, a história
mostra a sensação geral na
pequena cidade canadense:
a de que, pouco acostumada
à classe média no Brasil, a
Vale quer esmagá-la em
Sudbury.
O ódio é alimentado também pela dificuldade financeira imposta pela paralisação: sem salário há um ano,
grevistas vivem com apenas
US$ 200 por semana, fornecidos pelo USW (sindicato),
enquanto aguardam o retorno a rendimentos médios de
US$ 26 por hora.
"Não somos racistas contra os brasileiros", disse outro grevista, que pediu anonimato, na mina de Creighton.
"Nosso preconceito é contra Roger Agnelli [presidente
da Vale]", diz ele.
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