São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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Grevistas marcam ponto, todos os dias, mesmo debaixo de neve

DA ENVIADA A SUDBURY

Sob o abrigo de cabanas improvisadas de madeira e lona, cercadas de lixo, cinzas e eletrodomésticos quebrados, grevistas de Sudbury marcaram ponto todos os dias do último ano, até debaixo de neve, em piquetes nas portas da mina da Vale.
"Fazemos churrasco e contamos histórias", diz R.D., 46, mineiro há 20 anos, na entrada do complexo de Copper Cliff. Também param todos os carros que entram por até 15 minutos, um direito conseguido na Justiça.
"É o que podemos fazer. Os executivos da Vale são banqueiros gananciosos, não se importam com as pessoas."
Perto das outras opiniões que a Folha ouviu dos funcionários da empresa, a fala de R.D. foi suave.
Há adesivos com os dizeres "Foda-se a Vale (Fuck Vale)" e outros com garotinhos urinando no símbolo da empresa; há cartazes com altos executivos sob as palavras "brasileiro imbecil".
A aversão explícita contra a Vale que tomou os mineiros de Sudbury rendeu também anedotas que os funcionários garantem ser verdadeiras, mas a empresa nega.
A mais comum conta que um executivo brasileiro, ao ver um estacionamento lotado em um dos complexos de Sudbury, se espantou por saber que os carros eram dos mineiros. "O quê? Os camponeses têm carros?", teria dito o executivo.
Real ou não, a história mostra a sensação geral na pequena cidade canadense: a de que, pouco acostumada à classe média no Brasil, a Vale quer esmagá-la em Sudbury.
O ódio é alimentado também pela dificuldade financeira imposta pela paralisação: sem salário há um ano, grevistas vivem com apenas US$ 200 por semana, fornecidos pelo USW (sindicato), enquanto aguardam o retorno a rendimentos médios de US$ 26 por hora.
"Não somos racistas contra os brasileiros", disse outro grevista, que pediu anonimato, na mina de Creighton.
"Nosso preconceito é contra Roger Agnelli [presidente da Vale]", diz ele.


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