São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alta da renda per capita é mais lenta que a de asiáticos

Expansão de 7,8% do PIB em 2010 não é sustentável, dizem especialistas

Para reduzir diferença em relação a países ricos, Brasil precisa sustentar crescimento por longos períodos

DE SÃO PAULO

O desafio do Brasil para passar por um processo semelhante ao vivido pela Coreia do Sul em termos de reduzir o hiato de renda com países avançados é sustentar altas taxas de crescimento por várias décadas.
"Apesar do bom desempenho econômico dos últimos anos, o Brasil precisa crescer a taxas mais altas para atingir convergência de renda com os países desenvolvidos", diz Robert Wood, economista sênior da consultoria britânica Economist Intel-ligence Unit (EIU).
Em 2010, Wood projeta crescimento real da economia brasileira de 7,8%. Essa taxa deve resultar em um PIB per capita medido em Paridade do Poder de Compra (PPC) de US$ 11.149, o equivalente a 23,2% do mesmo indicador para os EUA, salto de meio ponto percentual ante os 22,7% registrados em 2009.
O problema é que a expansão robusta de 2010 não é considerada sustentável por economistas e nem mesmo pelo governo. Estimativas de economistas sobre o PIB potencial brasileiro (taxa de crescimento que não gera pressões inflacionárias) oscilam entre 4% e 5%.
A taxas como essas, o ritmo de convergência econômica brasileira corre o risco de seguir mais lento do que o de economias asiáticas dinâmicas como China e Índia, que, embora ainda mais pobres que o Brasil, têm apresentado taxas de expansão de seus PIBs per capita muito fortes nas últimas décadas.
A EIU projeta crescimento real médio para o Brasil de 4,6% entre 2011 e 2014, o que resultaria em um PIB per capita (em PPC) de US$ 13.764 no fim do período, equivalente a 25% do indicador nos EUA, ainda abaixo dos 30,5% registrados em 1980.
"O Brasil teria de aumentar significativamente sua produtividade. Para isso, teria de adotar medidas para simplificar o sistema tributário, reduzir a informalidade e melhorar o nível da educação, entre outras", diz Wood.

ECONOMIA FECHADA
Outro empecilho ao crescimento de longo prazo do Brasil e da melhora do nível de renda per capita é o fato de a economia brasileira ainda ser muito fechada ao fluxo de comércio exterior.
O grau de abertura de uma economia é medido pela chamada corrente de comércio, que é a soma de exportações e importações de um país.
"Em uma economia muito fechada, o nível de concorrência é menor e, portanto, o potencial de melhora da produtividade é mais baixo", diz José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-RJ.
Estudo sobre convergência econômica feito pelos economistas Jeffrey Sachs, professor da Universidade Columbia (Estados Unidos), e Andrew Warner, atualmente no Banco Mundial, também cita a abertura ao comércio exterior como uma das condições para que as rendas de países mais pobres convirjam para patamares de nações desenvolvidas.
Embora o Brasil tenha obtido avanços em relação ao segundo ponto, ainda deixa a desejar no que diz respeito ao primeiro.
A relação entre a corrente de comércio e o PIB brasileiro era de apenas 18% no ano passado, ante 45% da China, 30% da Índia, 40% da Rússia e 82% da Coreia do Sul.
(ÉRICA FRAGA)


Texto Anterior: Saiba mais: Cálculo leva em conta o custo de vida nos países
Próximo Texto: Grupos chineses se associam a ex-dirigente do PT
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.