São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Turno de 12 horas acelera metrô chinês

Em Pequim, operários e engenheiros trabalham também aos finais de semana; subterrâneo da cidade é todo mapeado

Engenheiro enviado por Mao para estudar o metrô pelo mundo em 1963 ainda coordena expansão pela China

DO EDITOR DE MERCADO

Cerca de 3.500 operários e técnicos trabalham de segunda a domingo em turnos de 12 horas. São as obras da linha 15 de Pequim, iniciadas em janeiro do ano passado.
Todos, inclusive os 30 engenheiros que trabalham no setor visitado pela Folha, moram na própria obra, em dormitórios feitos em estrutura pré-fabricada.
"Durmo aqui e só descanso nos feriados porque não podemos atrasar nenhum dia no cronograma", explica o engenheiro Yu Cao, 34, coordenador da linha 15.
Com 23 km, a linha 15 ficará pronta até o fim deste ano. Inicialmente seriam quatro anos de construção, mas o governo decidiu que ela precisa sair em dois anos -e, assim, contratar mais mão de obra em tempos de desaceleração da economia global.
O salário mais baixo para os operários, em sua maioria camponeses, é de 10 yuans/ hora. Os pedreiros ganham cerca de 3.600 yuans mensais (R$ 900), já incluídos horas extras e fins de semana - o valor equivale a dez vezes a renda média na zona rural.
Foram criados 14 espaços, de 10 mil metros quadrados cada, de onde começam as perfurações do túnel. Há seis máquinas perfuradoras em uso, da japonesa Hitachi, da alemã Herrenknecht e da fábrica chinesa de Shenyang.
"As estatais de gás e água mapeiam para nós, antes de começarmos a construção, onde ficam poços, rios, rochedos, cabos e outros barreiras no caminho de nossos túneis. Perfuramos seguindo esse mapa preciso", diz Yu.
A perfuração dos 14 poços de 17 metros de profundidade levou três meses; os túneis, seis meses; mais um semestre para serem instalados os trilhos, as proteções e as plataformas; e aproximadamente oito meses para construir as estações, as saídas, a finalização e o estacionamento dos trens.

LONGO PRAZO
O engenheiro Shi Zhongheng, 81, chefe da estatal Corporação Metrôs da China, personifica o planejamento a longo prazo.
Shi foi enviado por Mao Tsé-tung em 1963 para conhecer como funcionavam os sistemas mais avançados de metrô no mundo. Ficou encantado com o que viu em Tóquio e Paris.
Hoje, ele chefia o comitê de especialistas que coordena os metrôs em oito cidades. "Começamos o metrô de Pequim em 1965, mas só engrenou nos anos 90. Dinheiro é fundamental e a China era muito pobre", diz.
Entre 1965 e 2001, Pequim só construiu 41 km de metrô. Mas, no início de 2008, o número já tinha pulado para 140 km; hoje, tem 226 km; outros 220 km já estão em construção.
Agora, ele diz que é hora de inovar. No metrô de Chongqing, maior região metropolitana do país (com 31 milhões de habitantes), os trens correm por um trilho em vez dos dois habituais.
Depois da China, as redes de metrô que mais crescem no mundo são as de Seul e Madri. Ambas democracias e com salários bem mais elevados que os chineses, elas construíram respectivamente 89 km e 68 km desde 2000.
No Brasil, entre 1968 e 1982, a ditadura militar construiu apenas 30 km da rede do metrô paulistano. Atualmente, o quilômetro do metrô paulistano é 60% mais caro que o pequinês. Os trilhos da linha 4 paulistana são importados da China. (RJL)


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