São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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Emergentes e ricos se igualam, diz CEO da Pimco

Mohamed El-Erian dirige a maior administradora de fundos do mundo

Executivo afirma que o capital internacional está migrando dos países industrializados para os emergentes

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A distinção entre países industrializados e mercados emergentes está se tornando irrelevante. E, entre os emergentes, o Brasil representa a fatia mais larga dos investimentos da Pimco, maior administradora de fundos de renda fixa do mundo.
Essas declarações foram dadas em entrevista à Folha por Mohamed El-Erian, presidente-executivo da Pimco e um dos mais importantes nomes do mercado financeiro internacional.
El-Erian foi o arquiteto da decisão da Pimco de investir pesadamente em títulos da dívida soberana brasileira no segundo semestre de 2002, nadando contra a maré da fuga de capitais do país.
Na época, o mercado temia que, se eleito, Lula poderia não honrar os pagamentos da dívida externa.
Mas El-Erian foi convencido por assessores de Lula, entre eles Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda), de que não haveria calote.
El-Erian disse à Folha que a Pimco sofreu pressão de grandes bancos de Wall Street para mudar sua posição em relação ao Brasil naquela época.
E que, desde então, a administradora aumentou sua exposição ao mercado brasileiro. Mas ressaltou que o país precisa aumentar o investimento privado e reformar o regime tributário.

 

Folha - Como o seu portfólio brasileiro evoluiu desde 2002, quando a Pimco decidiu comprar títulos da dívida soberana brasileira durante a crise?
Mohamed El-Erian -
Nós temos aumentado nossa exposição ao Brasil. Achamos que a economia estava sendo bem administrada. Eu escrevi um artigo no site da Pimco em 2003 dizendo que o Brasil seria grau de investimento em cinco anos. Você não acreditaria a quantidade de comentários que recebi por esse artigo.

Comentários críticos?
Sim, criticando o artigo. As pessoas não acreditavam que o Lula manteria o ajuste.

É verdade que o Brasil representa uma fração importante dos investimentos da Pimco, perdendo apenas para alguns países desenvolvidos?
Essas não são estimativas ruins (risos).

Isso quer dizer que vocês estão tratando o Brasil como um país desenvolvido?
Não somos os únicos. O mercado também. Se você olhar os "spreads" do Brasil (diferença entre os juros de cinco anos pagos pelos títulos da dívida externa do Brasil e os do Tesouro norte-americano), eles estão em 1,3 ponto percentual, os da Espanha estão em 1,8, a Irlanda está em 3,5 e a Grécia, em 10.
Toda a distinção entre países industrializados e mercados emergentes está se tornando irrelevante.
Como empresa, lentamente estamos tirando dinheiro de países industrializados para mercados emergentes.
É uma visão de longo prazo. Acreditamos que há uma migração tanto da dinâmica de crescimento como de riqueza dos países industrializados para mercados emergentes. E o Brasil é, de longe, o emergente ao qual temos maior exposição.
Mas isso não significa que tudo esteja perfeito no Brasil, inclusive eu estive aí no último mês.

E qual foi sua impressão?
Eu me senti encorajado pela autoconfiança do setor privado e pela seriedade das autoridades. E fiquei muito impressionado com o fato de que muitos avanços foram institucionalizados.
Mas o Brasil precisa aumentar o investimento. O investimento privado ainda é muito baixo. O Brasil tem de continuar reformando seu regime tributário, ainda há um elemento anticrescimento no sistema tributário.

Qual seria a importância do ex-ministro Palocci num eventual governo de Dilma Rousseff?
Ajudaria muito. Ele tem uma credibilidade enorme. É visto como alguém que é fiscalmente disciplinado. Tem boa reputação tanto com investidores domésticos como estrangeiros.


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