São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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Mercado abriga novatos em Buenos Aires

70 empresas iniciantes ganham espaço gratuito e tutoria da prefeitura em velho mercado de peixes reformado

Jovens com projetos em design, moda e cinema podem ocupar galpões; bairro degradado quer atrair indústria criativa

RAUL JUSTE LORES
EM BUENOS AIRES
LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Ao sul do bairro da Boca, Barracas está fora de todos os guias turísticos de Buenos Aires. É o bairro mais pobre e violento da cidade e é cheio de galpões e velhos armazéns portuários abandonados -uma espécie de Barra Funda ou Mooca portenha.
Havia mais de 20 anos o antigo Mercado de Peixes, aberto em 1934, estava abandonado. Se fosse em São Paulo, com sorte, talvez se tornasse mais um centro cultural. Mas a prefeitura portenha decidiu instalar ali o Centro Metropolitano de Design (CMD).
Com uma reforma orçada em 60 milhões de pesos (R$ 25 milhões), feita após dois concursos de arquitetura, o espaço de 16.000 m2 abriga desde o início dos anos 70 empresas de iniciantes, selecionadas por concurso -um júri criado pela prefeitura escolheu as melhores propostas de negócios nas áreas de design, moda e audiovisual.
Os jovens empresários podem ficar hospedados na incubadora sem pagar aluguel por um ano, quando terão de ceder o espaço para novos candidatos.
Nesse período, recebem tutoria de técnicos municipais, com cursos de capacitação em finanças, networking, comercialização, distribuição, recursos humanos, criar marca e exportação.
A ideia é que, daqui a um ano, se vingarem e virarem microempresas, terão linhas de crédito do estatal Banco Ciudad.

ESPAÇO BARATO
"Temos muito potencial para as indústrias criativas, mas os aluguéis em Palermo ou na Recoleta são muito caros", disse à Folha o secretário de Desenvolvimento Econômico do governo de Buenos Aires, Francisco Cabrera.
"Atraindo os jovens para essa região subutilizada, damos viabilidade econômica aos jovens e ainda revitalizamos o bairro", explica.
O projeto é ambicioso e pretende atrair mais empresas ao bairro, que tem ruas com nomes de personalidades brasileiras, como Oswaldo Cruz e Gonçalves Dias.
No vizinho Parque Patricios, foi criado um distrito tecnológico com 80 empresas e muitos subsídios.
Para criar um ícone na região, a prefeitura decidiu construir uma nova sede para o Banco Ciudad com o arquiteto britânico Norman Foster -em tempos de crise, os cachês das estrelas da arquitetura internacional estão menos salgados.
O design também impressiona na incubadora, que tem mais cara de uma agência de publicidade, com espaçosos cubos de metal e madeira estilizados ocupando o velho galpão, tubos vermelhos e muito vidro, ligados no primeiro andar por pontilhões de aço.
O CMD é a menina dos olhos do prefeito Maurício Macri, o oposicionista que sonha derrotar a presidente Cristina Kirchner nas eleições presidenciais deste ano.
O micro-Vale do Silício portenho é seu cartão de visitas como gestor e empreendedor. Mas a instável economia argentina é que vai decidir se os incubados vão desabrochar ou não.
Como descreve a artista plástica Ana Sfreddo, 43, com ateliê no CMD: "Precisamos dar o passo certo, com muita cautela".


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